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Fevereiro/2015 – A Nikon AF-S 85mm f/1.4G é a objetiva 85mm com mais credenciais do mercado. Primeiro ela tem a benção da família Nikkor: as duas gerações anteriores, Ai-S e D, ganharam o status de clássicas por causa da construção, operação, e qualidade de imagem; propriedades que só melhoraram na f/1.4G. Segundo, o motor SWM é sem dúvidas o destaque silencioso (sem trocadilhos) do modelo. Extremamente veloz e preciso, ela é a 85mm AF com foco mais rápido que eu já usei, permitindo usos muito além do “retrato de ombro e rosto” que o curto telephoto é empregado. E terceiro, o desempenho óptico é fenomenal: a resolução é alta aonde deve ser e o desfoque é suave; características que raramente andam juntas. (english)
Simplesmente não temos nada parecido nas outras marcas, nem a top EF 85mm f/1.2L II USM. A Canon é meio stop mais luminosa e as imagens são essencialmente diferentes na abertura máxima. Mas o foco automático da série L é muito lento mesmo na geração II: com 270º de precisão, ele é longo demais do infinito ao foco mínimo, impossível de trabalhar por exemplo com esportes. E o sistema fly-by-wire, sem conexão mecânica do anel manual com as peças internas, também não acelera a focagem manual. Nem mesmo a Sigma 85mm f/1.4 EX DG HSM, que tem o foco mecânico e relativamente rápido, se compara a AF-S por causa do desempenho óptico.
Ela chegou no vlog do zack em 2013 para tentar derrubar o reinado da 85mm f/1.2L II USM do meu kit, o que não aconteceu. Depois de comparar muitas fotos lado a lado, sair as ruas, viajar e até vender alguns arquivos, conclui que cada uma faz um trabalho diferente. A f/1.4G é superior para sessões mais animadas, com a modelo andando, por exemplo, e uma das únicas duas lentes Nikon que eu tenho no kit até hoje (a outra é a 14-24mm f/2.8G). E a Canon é mais “especial” com a profundidade de campo curtíssima, bacana para um ou dois retratos em f/1.2. São especificações próximas com resultados diferentes, que precisam viver juntas no mesmo kit. Boa leitura!
A característica física mais notável da AF-S 85mm f/1.4G (2010, US$1599) é o peso de 595g. Ela consegue ser mais leve que a Rokinon 85mm f/1.4 (635g) apesar de incluir motores internos de foco automático e abertura, que este modelo low cost não tem. E o principal motivo de estar no meu kit: a Canon EF 85mm f/1.2L II USM é um porco de 1025g, inviável para sessões longas sem tripé, quando eu prefiro levar a AF-S. É inexplicável como a Nikon construiu a 85mm f/1.4G com mais elementos (10 em 9 grupos) e mais leve que as concorrentes citadas; 9 elementos e 8 elementos, ambas em 7 grupos, respectivamente. Um verdadeiro milagre da engenharia.
E em 8.38cm, ela também não é grande. O equilíbrio é quase perfeito na lente (são 8.64cm de diâmetro) e na câmera (o conjunto não pesa pra frente), para a mesma sensação de prazer em fotografar que eu já citei de outras primes Nikkor (como a 50mm f/1.4G). Parece até outro fabricante quando você coloca primes e zoom lado a lado: 24-85mm, 24-120mm, 16-35mm, são tão estranhas de usar, sem equilíbrio e com anéis ridículos, que me faz apreciar a “estratégia L” da Canon ou a “Global Vision Art” da Sigma. Estas duas linhas garantem qualidade mecânica e você sabe o que está levando. Mas com a Nikon rola um sistema de “tentativa e erro”, terrível.
Do lado de fora o corpo de plástico tem controles simples típicos de uma prime: apenas o anel de foco manual e o botão para desativar o motor AF-S. Este anel é na verdade feito de metal e emborrachado, com 18mm de espessura, totalmente rente ao corpo. E não tem qualquer jogo/atraso entre o movimento externos e o movimento das lentes, perfeito para precisão em abertura máxima. Porque todas as objetivas deles não são assim vai além da minha compreensão. Você consegue ver pela janelinha de distância a escala de pés e metros percorrer pouco mais de 45º de giro para ir do infinito até o foco mínimo de 85cm, semelhante a outras primes 85mm.
E dentro o silent wave motor é o melhor recurso das f/1.4G. É impressionante como o módulo Advanced Multi-CAM 3500FX (D800E) consegue travar precisamente o ponto, um desafio para aberturas maiores que f/2 e sensores phase. Igual a 50mm f/1.4G, ele acerta qualquer distância sem problemas com front e back focus. Talvez seja por isso que a Nikon nunca implementou um “AF microadjustment” como as Canon EOS. E ele consegue fazer isto num quarto do tempo da EF 85mm f/1.2L II USM, tanto para objetos estáticos quando no modo AF-C, contínuo. Isto abre oportunidade para empregar os 85mm em esportes de quadra, em que a abertura enorme, maior que qualquer zoom, pode congelar os sujeitos sem depender do valor alto do ISO para compensar.
Na frente os filtros de ø77mm são gigantes (na f/1.2L são de ø72mm) e não giram durante a focagem, bacana para polarizadores. O hood incluído na caixa vai numa baioneta logo acima dos filtros e não é muito maior que a lente. O que é relativamente ruim, já que alguns filtros especiais como os graduados variáveis são maiores que a rosca, e não cabem dentro do hood. Em cima a janelinha de distância é clara e eu até gosto destas “placas” com a especificação da lente, bem melhor que os números impressos nas Canon. E atrás o mount AF-S é pequeno perto do restante dos vidros; uma limitação do F-mount que não permite lentes AF muito mais luminosas. Ele tem uma borracha de proteção mas o restante da lente não conta com weather sealing.
No geral o projeto da AF-S 85mm f/1.4G impressiona pela leveza, facilidade do uso e precisão. Você não é o tempo todo lembrado que está usando uma prime de grande abertura porque ela não pesa contra a câmera, o foco não sofre com elementos gigantes, e os plásticos do lado de fora parecem “mundanos”, sem nada de muito especial. Mas é depois de tirar as primeiras fotos com resolução e bokeh suave, que você entende o que tem de tão especial nesta objetiva.
Com apenas coatings Nano-crystal e SIC (Super Integrated Coating), a AF-S 85mm f/1.4G é a prova que não só de vidros especiais são feitas as melhores lentes. Baseada num projeto duplo Gauss de alta resolução, a ausência de vidros ED e asféricos garante a suavidade no desfoque, duas características que raramente andam juntas. Ou você tem muita nitidez o tempo todo, com linhas repetitivas no segundo plano, ou você não tem resolução nenhuma, com desfoque acentuado. Mas a Nikon conseguiu encontrar o balanço perfeito entre eles: resolução no plano focal e o bokeh mais suave das Nikkor que eu já usei. * Todas as fotos com a Nikon FX D800E.
A característica mais marcante das imagens é a mistura de cores no segundo plano independente da abertura. Por causa da distância focal, aquele look classicão com baixa profundidade de campo no full frame é bacana para isolar o sujeito do fundo em close-up. Um pouco mais longe e com a abertura fechada, temos outro resultado: imagens de altíssima resolução que casam bem com sensores sem filtro low pass. Serve para paisagens, naturais ou urbanas, e produtos grandes, que rendem impressões gigantes, imersivas, cheias de detalhes. As aberrações cromáticas laterais não existem e nem o astigmatismo em pontos de luz, totalmente aberta; o mesmo para a distorção geométrica. E o contraste é alto, apesar de raros problemas com reflexos internos.
Em f/1.4 a nitidez aparece em quase todo o quadro, com exceção das bordas máximas do full frame na D800E. É bem num quadradinho pequeno em cada um dos cantos que os detalhes não serão reproduzidos com a mesma fidelidade do centro. Mas você só perceberá isto em objetos 2D como paredes ou paisagens distantes, se elas caírem no plano focal que é curto na abertura máxima. Para todo o restante das situações, como retratos, detalhes em 3/4 ou composições que acentuem o desfoque, o que estiver em foco será reproduzido perfeitamente. Em situações de muita luz, como durante o dia, dá pra ver uma leve névoa e perda de contraste em elementos gráficos como placas, mas as informações estarão lá. A única objetiva que não mostra este comportamento totalmente aberta é a Sigma 50mm f/1.4 DG HSM Art, que lembra mais uma Zeiss Otus.
Fechando para f/2 o blooming já é quase totalmente resolvido mas a profundidade de campo continua muito curta para acertar com precisão o foco. As chances de você ver aberrações cromáticas de eixo continuam altas e pixel a pixels os arquivos ficam com aquela cara de “foto com lente de grande abertura”. Não é um defeito, é uma característica. Todas as objetivas abaixo de f/2 que eu já testei (f/1.8, f/1.4, f/1.2, f/0.95, exceto Sigma 50mm f/1.4 DG HSM Art) mostram isso e sinceramente dá para corrigir via software por contraste seletivo. Note que não é uma reclamação, somente um comentário. Se você precisa mesmo de arquivos perfeitos em 85mm e abertura máxima, a Zeiss demonstrou que isso é possível na Otus 85mm f/1.4 Apo Planar T* ZE de US$4490.
Para o restante de nós mortais, feche até f/2.8 se precisar dos arquivos perfeitos. O blooming? Não aparece mais. Perda de contraste em muita luz? Foi embora. Resolução perfeita? Finalmente. Tenho uma foto da praia que dá para ver literalmente todos os grãos de areia no curto espaço do plano focal do full frame. Outra imagem do grafismo de um skate parece uma ilustração vetorial na tela do computador. O CA axial continua presente e alguns contornos fora de foco ficam coloridos, mas isto vai sumindo quanto mais você fecha a abertura. O importante é que os arquivos podem ser impressos sem grandes correções, e é neste stop que a AF-S 85mm f/1.4G fica perfeita.
Fechando ainda mais você resolve o CA e vale a pena para elementos arquitetônicos e paisagens. Prédios ficam absolutamente impecáveis e impressiona a reprodução de tantos detalhes nos 36MP da D800E. Em ISO100 a imagem é tão limpa que parece uma janela. Aqui os últimos problemas ópticos são os causados pelo sensor, como o eventual moiré dada a resolução. O contraste é perfeito e podemos apreciar composições com cores, formas e texturas.
O bokeh é suave em qualquer abertura graças ao sistema de 9 lâminas arredondadas. Eu não sou viciado em fotos com pouca profundidade de campo e quando acontece é por acaso nos meus arquivos. Mas para alguns fotógrafos esta é a razão de ser das lentes de grande abertura, e a Nikon não faz feio novamente. Até o segundo plano mais confuso como a torcida num estádio de futebol, some no desfoque. Pontos de luz ganham formas maiores, difusas, coloridas, que sozinhas podem render imagens interessantes. Das poucas lentes de grande abertura que já usei da Nikkor, a 85mm f/1.4G é a com melhor bokeh por enquanto; e eu não esperava menos que isso.
Uma objetiva curto telephoto, de grande abertura e foco automático esperto. Parece fácil na teoria, mas só a Nikon conseguiu entregar na prática. A Canon mandou bem na qualidade das imagens da EF 85mm f/1.2L II USM, porém o foco restringe o uso para estúdios e fotografia de rua com pouca ação. A Nikkor não: ela vai tranquilamente para o lado do campo travando o foco com a D800E mesmo em abertura máxima. A resolução é alta como você espera de uma prime com mais de US$1500. Mas os defeitinhos ópticos estão todos lá: feche 2 stops para arquivos perfeitos. O astigmatismo é zero assim como a curvatura do plano de imagem. Se vale ficar no kit? Sem dúvidas. O problema é a AF-S 85mm f/1.8G, que é ainda mais nítida e custa US$498, apesar do bokeh não tão suave. A resposta está ai: você precisa de nitidez (f/1.8G) ou do desfoque (f/1.4G)?