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Abril/2015 – A Canon 10-22mm é uma zoom apresentada em 2004 para resolver o problema da nova geração de câmeras digitais SLR que ressuscitaram o formato APS-C: a falta do ultra grande angular. Enquanto a linha EF gozava das tops 14mm f/2.8L USM e 16-35mm f/2.8L USM, o EF-S sofria para descer além das 18-55mm dos kits. Com abertura variável f/3.5-4.5, a 10-22mm não compete com as ofertas f/2.8 da série L. Nem a construção de plástico sem weather sealing é útil entre os profissionais de paisagem que enfrentam chuva. Mas pelo menos o corpo é leve, a operação é suave, e o motor USM do tipo ring é bem vindo. Levei-a pra China e Australia testar a performance no dia a dia, e vocês veem os resultados neste artigo. Boa leitura! (english)
Em 386g de 13 elementos em 10 grupos, a primeira coisa que você nota na EF-S 10-22mm é o peso, compatível com as ofertas DSLR de entrada APS-C da Canon. Isso é graças a abertura variável f/3.5-4.5 que economiza quase metade dos vidros exigidos nas zoom EF f/2.8 equivalentes, para uma experiência bacana na hora de carregar e fotografar. Também o corpo é feito de plástico com mount de metal, com acabamento melhor que as EF-S anteriores. Nada balança fora do lugar, o tubo do zoom se movimenta internamente e é suave, dignos de uma objetiva de US$649.
O design beira o incomum porque do mount EF-S até a rosca de filtros de ø77mm a lente vai crescendo em “degraus”. Não é “fluída” com a nova mini EF-S 10-18mm e estes filtros gigantes na frente são bem caros para uma linha intermediária. Cuide para não usar elementos muito grossos porque o vidro da frente poderá bater no começo do grande angular, além da rosca maior causar vignetting. Pelo menos ela aceita filtros, extremamente úteis para paisagens com ND graduados e polarizadores, coisa que a maioria das full frame ultra grande angular não aceita. E o anel de zoom na frente é grande e bacana de usar, super leve dos 22mm aos 14mm, e leve entre 14mm e 10mm.
Já o foco tem um anel manual atrás, e o motor USM é do tipo ring do lado de dentro. Ele suporta o full time manual e a qualquer momento está engatado no tubo interno para ajustes com as mãos, tanto em AF quanto MF no switch lateral. O peso é ideal e não há jogo entre os movimentos, apesar da minha cópia ter um balancinho em outra posição. O anel mexe pra frente e pra trás, 1/5 de mm, que é pouco mas está lá; definitivamente não é uma construção L. E a janela de distância também fica atrás e é menor que o normal, podendo inclusive ficar coberta pelo flash embutido da câmera.
No geral a operação é boa e realmente parece que a Canon tem uma linha dentro da linha das EF-S, com o anel dourado na frente, USM do tipo ring e construção um pouquinho melhor. Como a EF-S 17-55mm f/2.8 USM, elas são boas mas sem encostar na série L, definitivamente superior aos kits antigos e tentam justificar o preço alto. Mas algo aconteceu em 2012 que ofuscou as “EF-S USM”: a chegada do STM. As “EF-S STM” não só receberam um motor de foco silencioso e suave para AF no EOS Movie, mas também projetos ópticos novos e melhores, além do design externo revisado.
O fato é: a EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM, e até a EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM sob o mesmo argumento, estão antigas demais, ultrapassando uma década de desenvolvimento e mercado. Se você já tem uma ou as duas, não terá motivos para um upgrade. Eu mesmo uso a 10-22mm pra trabalhar, sendo que o controle da abertura dela nem funciona com a Cinema Camera. Mas para comprar hoje, sinceramente não vejo qualquer atrativo nestas duas EF-S USM antigas. Vá de STM que é mais negócio, especialmente na performance óptica revisada como veremos a seguir.
Com um range que vai do ultra grande angular até o comecinho do standard, a EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM é uma objetiva “ultra” para fotos de ambientes fechados e paisagens, mas também funciona na rua para retratos dinâmicos do dia a dia. Você consegue brincar com as linhas do quadro distorcendo as proporções entre os objetos nos 10mm, fundamental para fotos interessantes de sujeitos estáticos como arquitetura, mas também consegue fotografar pessoas. É daquelas objetivas que pode ficar o tempo inteiro na câmera e diferenciar o trabalho sozinha, já que são poucos que tem o grande angular no kit. * Todas as fotos com a Canon EOS 60D.
Mas infelizmente o ultra wide angle nunca foi o forte da Canon e na geração da 10-22mm, 16-35mm f/2.8 e até da 17-40mm f/4, a qualidade de imagem não entrega a resolução exigida pelos sensores digitais. Foi só depois do combo EF 16-35mm f/4L IS USM + EF-S 10-18mm f/4.5-5.6 IS STM em 2014, e agora a EF 11-24mm f/4L USM de 2015, que nós recebemos “performance Canon” no grande angular, com detalhes nítidos nas bordas e aberrações cromáticas bem controladas. As objetivas antigas não tem nada disso e você vê nas fotos. Seja no zoom 100% no computador ou nas impressões gigantes, faltam detalhes no perímetro e, se eles eventualmente acontecem, aparecerão junto do CA lateral. Funciona mas hoje em dia conhecemos coisa melhor.
A minha principal reclamação está no pixel a pixel em zoom 100% que nunca parece realmente nítido. Texturas saem como “zonas de cor”, pessoas a distância ficam irreconhecíveis, e o uso principal de uma lente desta perde o sentido: capturar objetos no todo. O que chega a ser paradoxal, já que “o todo” até é reconhecido com pouca resolução. Mas nada de apreciar os detalhes de perto: a resolução não está lá, em nenhuma abertura, e historicamente fez parecer que o problema era do formato APS-C “inferior”. Não era. O problema é destas lentes UAW de performance questionável da Canon. Na era do filme ninguém percebia, mas agora…
De vez em quando até dá para ter esperança de resolução na 10-22mm, mas com um preço: aberrações cromáticas laterais. Galhos das árvores, lâminas das gramas, contorno de prédios, ou seja todos os sujeitos do ultra grande angular, precisam ser corrigidos via software para se livrar do “efeito neón”. Funciona para saída web e até um print A3, o suficiente para 99% das situações. Mas “o suficiente” não é o bastante, e se você trabalha e vende os arquivos, faça o favor de investir melhor para entregar o que os clientes merecem. A Canon não fez e por isso eu tenho a D800E + AF-S 14-24mm f/2.8G. Sabe quando eu vou colocar a EF 11-24mm f/4L USM no kit? Nunca.
Pelo menos as distorções geométricas são bem controladas no dia a dia. Evidente, posicione o horizonte no perímetro do quadro, ou fotografe paredes, que você com certeza verá aquela bolha no centro. Para composições dinâmicas isto nunca é um problema, sem contar que é fácil de corrigir no DIGIC5 ou via software no pós-processamento. Mas as cores saem um pouco mortas da câmera, então prepare-se para tratamentos pesados nos arquivos a fim de extrair fotos com maior impacto. A ideia do ultra grande angular é mais brincar com as linhas da composição, de itens arquitetônicos a paisagens. Se o sujeito for interessante, as cores não importarão.
A minha impressão é que o ultra grande angular da Canon sempre foi motivo de preços altos por causa do look diferenciado nas imagens, sem de fato entregar performance óptica bruta. Não estão cobrando pelas partes mas pelo hype da distorção, lógica que funcionava no passado. Mas hoje em dia não. Qualquer Sigma 8-16mm f/4.5-5.6 DC HSM fará mais e melhor, com quase o mesmo preço. E nem no full frame temos como comparar as ofertas Canon com por exemplo as Nikon. Eles acordaram no ano passado com as novas EF-S 10-18mm e EF 16-35mm f/4, que melhoraram muito, e inclusive apresentaram a incrível EF 11-24mm f/4 agora em 2015. Portanto nesta altura do campeonato minha sugestão é olhar para outras alternativas. E boas fotos!