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Janeiro/2018 – A T20 é a primeira câmera “intermediária” que vemos da linha Fujifilm “X” no blog do zack. Abaixo das tops T2 e Pro 2, e acima da básica A2, a T20 mantém parte da construção e dos recursos do topo da linha, mas num equipamento leve, portátil e fácil de usar; além de acessível. Por US$899 somente o corpo – um valor alto se pensarmos nos smartphones, hoje as “câmeras” mais populares do mercado – a T20 tem ao mesmo tempo a obrigação de entregar um produto completo, condizente com o preço e a concorrência (Sony A6300 e Canon EOS T7i), como também uma câmera que preencha a lacuna entre o topo e a base da gama “Fuji X”. Com o mesmo sensor e processador das máquinas high-end, porém com a oferta simplificada de comandos do corpo portátil, será a X-T20 a Fujifilm definitiva na linha X? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 11.8 x 8.2 x 4.1 cm de 383g, a X-T20 está confortavelmente no meio da linha Fujifilm X em peso e dimensões (X-T2 com 13 x 9.1 x 4.9cm de 507g, e X-A2 com 11.6 x 6.6 x 4cm de 350g). Menor que a X-T2, porém com o mesmo “estilo” de uma câmera SLR (“single lens reflex”) com “viewfinder” “cabeçudo” ao centro, a X-T20 é o sonho realizado de uma máquina fotográfica moderna: os mesmos controles físicos e a usabilidade de uma câmera “antiga”, porém menor e mais discreta de usar. Enquanto o mercado de DSLRs opta por enormes (em comparação) corpos para abrigar espelhos e visores ópticos, idênticos às máquinas dos passado, a T20 mantém o mesmo design da irmã maior T2, sem o espelho, para uma câmera muito menor. Tudo está no mesmo lugar e com a mesma experiência, e depois de usar todas estas câmeras, a conclusão é clara: a Fujifilm produz as melhores máquinas mirrorless do mercado, com ergonomia de ponta e usabilidade única.
A construção da X-T20 gira em torno de um miolo de magnésio onde está montado o módulo do obturador e o sensor, e o acabamento externo mantém partes de metal; quase como a X-T2. A diferença, porém, é que na câmera mais cara a Fuji opta por um bloco único, sem peças separadas, enquanto a diminuta T20 é montada em “placas” aparafusadas nas estruturas de plástico (slot da bateria; suporte dos plugues USB/HDMI; até a placa frontal onde está a baioneta de montagem). Na prática a diferença está no peso, que muda todo o equilíbrio com a objetiva, melhor balanceado na câmera maior T2. Faltando na T20 também ficou a resistência à poeira e respingos (“weather resistance”), declarado pela Fuji na T2, o que curiosamente muda TODA a experiência na câmera intermediária: os discos e botões tem um feedback muito mais “plástico” na T20, enquanto na T2 os discos parecem (e o são) fixos sobre peças de borracha. É uma diferença discreta, mas que deixa a experiência distinta entre as duas máquinas, pior e mais “porcaria” na T20, infelizmente.
Nas mãos a ergonomia também muda um pouco, afinal o corpo menor não é tão generoso com os dedos. Novamente, a comparação entre a T2 é lógica: tudo está praticamente no mesmo lugar, mas parece mais apertado na T20. O grip frontal é menos saliente e menos gostoso de usar na câmera menor, e a T20 é quase tão desconfortável quanto as Sony A6300/A6500; corpos que eu julgo de ergonomia caótica (fiquem o dia todo trabalhando com elas para perceber). Enquanto a T20 funcione com as objetivas XF “prime” geralmente curtas e leves, francamente ela é desconfortável a partir da zoom 18-135mm; problema que não encontramos nem na mais básica das DSLR. Por outro lado impressiona como a Fujifilm manteve os três discos físicos de operação clássicos das câmeras X, que ativam os modos de prioridade do obturador e compensação da exposição “direto nos dedos”. A operação é basicamente a mesma entre as Pro 2 e T2, e agora ultra-portátil na X-T20.
Do lado direito, vamos começar pelos controles ao alcance do dedo indicador. O “deslizador” de liga/desliga é suave como na X-T2, porém a construção é pior; na minha câmera com poucas semanas de uso ele já está balançando fora do eixo, apesar de ser um prazer de usar. Com o próprio dedo indicador você desliza um caminho curto da esquerda para a direita, e a botão “engata” na lateral do dedo, ligando a máquina. Ao centro desta chave está o botão de disparo, que também traz um detalhe: uma rosca central pode prender um botão personalizado, e você decide entre uma peça de borracha ou de plástico. É um nível de personalização que poucas marcas oferecem, e pode facilitar o uso da X-T20. Este botão tem dois estágios, e com ainda outro porém: os dois estágios tem clicks distintos, mais fáceis de usar que botões 100% silenciosos; ou os botões de apenas 1 click. O primeiro estágio inicia a focagem automática e a fotometria, e o segundo efetivamente dispara a foto. São detalhes para um parágrafo inteiro, mas esta é a realidade da Fujifilm: ligar/desligar e “o apertar de um botão” é o que a separa das outras marcas no mercado.
Ainda ao alcance do dedo indicador está um disco frontal “embutido” no corpo. Quase com a mesma função do “disco principal” das DSLR Canon (aquele à frente da “pegada”, com o disparador), ele é usado para controlar a abertura da objetiva (caso você esteja usando um modelo da série “XC”, que não tem o anel de f/stop no tubo), ou usado para controlar o ISO; este disco também tem um botão de “click” para dentro (silencioso, discreto), e inclusive pode ser programado para outras funções. Em cima, ao lado do disparador, um minúsculo botão “Fn” também pode ser programado para diversas funções, e é extremamente “discreto” de apertar, com um caminho bem curto para entrar o comando. Este é um botão importante e popular hoje em dia (a Sony A6500, por exemplo, tem dois botões “C1” e “C2” nesta área), e pode tomar o lugar de um botão rápido para o ISO, a fotometria, o modo de obturador… São mais de 24 (!) funções customizáveis, para personalizar a X-T20 à gosto, de acordo com o seu tipo de trabalho.
Para o dedão direito sobram praticamente todos os outros controles da X-T20; semelhantes à T2. Em cima, o disco maior com números do “4000” à letra “B” ativa a função “prioridade do obturador”, na qual você indica à câmera qual velocidade usar; e a máquina decide a abertura do diafragma e/ou o ISO variável. As posições “A” (auto), “T” (timer) e “B” (bulb) ativam as respectivas funções do obturador, e todas as letras são gravadas no disco, pintadas de branco, sem chances de apagar; um luxo total! A resposta tátil do giro é sólida sem ser dura, porém sinto falta da volta completa em 360º: não dá para ir diretamente do modo “B” para o modo “A”, por exemplo, e a Fuji deveria permitir tal flexibilidade (em todos os discos!). Debaixo deste disco há um anel curioso, com um engate entre uma função “sem nada” (desligado) e a palavra AUTO. Ele ativa o modo totalmente automático da X-T20, equivalente às opções de “cena” das outras marcas, e indica o público da T20: os iniciantes. Os modelos T2 e Pro 2 não tem esta chave da linha intermediária.
No canto direito, a Fuji X-T20 abriga o disco físico de compensação da exposição; outro luxo dedicado às câmeras realmente voltadas à fotografia. Com opções de + e – 3EV de cada lado (de novo, nada de girar 360º, infelizmente), este ajuste incentiva o usuário a usar um dos modos semi-automáticos da exposição, baseados na assistência da fotometria. Vira e mexe e eu vejo fotógrafos “ostentando” a exposição 100% manual (“coisa de profissional”), mas na prática os modos semi-auto (prioridade à abertura/obturador/ISO) são de fato as maneiras mais rápidas de trabalhar. Coloque este disco em um dos valores numéricos, e a câmera automaticamente compensa a exposição “para cima” ou “para baixo”, de acordo com a ambientação da sua foto (mais clara ou mais escura). Uma opção C no disco oferece ainda a opção de expandirmos a compensação até +-5EV, e usa um dos discos embutidos para controlar graficamente o valor na tela LCD. E um segundo disco embutido está ao centro dos dois botões AE-L (“auto-exposure lock”) e AF-L (“auto-focus lock”), ambos didáticos. A T20 é uma câmera minúscula, mas a oferta de botões é enorme.
Atrás, o dedão da mão direita “cai” sobre um protuberante gatilho lateral emborrachado, usado para equilibrar a câmera contra a pegada dos dedos da frente. A quina inferior-direita ficará apoiada na palma da mão, e a X-T20 ficará confortável de segurar por alguns minutos. Na hora de operar os botões, o apoio vai para a mão esquerda e o dedo indicador da mão direita tem então acesso aos controles “Q” (“quick”), que tem a mesma função de uma Canon EOS (ativar um menu rápido na tela traseira); um botão DISP/BACK, que “cicla” entre as informações da tela LCD; e o conjunto de botões direcionais + MENU/OK ao centro; todos estes com as respostas táteis mais toscas que eu já usei numa câmera recente, nesta faixa de preço. Não chega a ser uma reclamação, afinal esta opinião varia de gosto, mas estes botões são absolutamente plásticos: qualquer apertadinha faz um distinto “CLICK!” alto, seco, duro; como se estivéssemos apertando uma câmera descartável de trinta anos atrás; e poderá incomodar quem está acostumado com equipamentos “premium” (que tem o toque emborrachado nos botões).
Já do lado esquerdo a X-T20 tem os botões de reprodução (“playback”) e lixeira (apagar as fotos), e exigem a operação da câmera suportada nas duas mãos; menos prático que botões do lado direito. Em cima, o último disco beira o desnecessário na T20: ele é dedicado à operação do modo de disparo (“drive”) do obturador, com opções para “single” (único); contínuo L e H (“low” e “high”, baixo e alto); “bracketing” 1 e 2 (sequenciamento); “Adv.” 1 e 2 (filtros com efeitos de “miniatura”, “câmera de brinquedo”, etc); exposição múltipla; panorama e… vídeo. Pois é, um monte de opções básicas para fotógrafos amadores, no lugar do que poderia ser um disco físico do ISO, como nas tops T2 e Pro 2; melhor explorado por fotógrafos intermediários e profissionais. Ainda, é por este disco que ativamos a função vídeo, com cinco “clicks” entre ela e a função de disparo “single”; ou seja, nada de ativar a gravação rapidamente, como fazemos em qualquer Sony (que tem um botão dedicado de gravação); ou DSLR. Este disco é uma oportunidade desperdiçada pela Fujifilm.
Na frente a X-T20 esconde um dos recursos mais fofos que já vi numa câmera deste porte: o flash embutido fica atrás do trapézio sobre o logotipo FUJIFILM, e é ativado por uma chave debaixo do disco de disparo, em cima da câmera. Com guia 5 (ISO100) ele é relativamente fraco para efeitos criativos, como rebater a luz no teto com um cartão; porém poderoso nas funções: sincronismo de alta velocidade; 1ª ou 2ª cortina; e até a função “commander” sem-fio; estão todas no software da T20. Pensando que ambas T2 e Pro 2 maiores não encontraram espaço para um flash, dá pra sentir o carinho dedicado à T20 só de olhar para a engenharia por trás desta unidade atrás do trapézio. No canto inferior direito uma chave “MCS” indica a operação do foco automático da objetiva, com opções de “S” “single” (para uma única foto); “C” contínuo, e “M” de manual, auto-explicativos, e está ao alcance do dedo indicador. E do outro lado da baioneta de montagem fica o botão de liberação da objetiva, minúsculo porém extremamente forte, “potente” para garantir que a objetiva não saia do lugar; apesar de suave ao apertar. Julgo o X-mount da Fuji superior ao E-mount da Sony, por ter uma baioneta muito mais grossa, mais resistente para diversos anos de operação.
Enfim, nas laterais, a Fujifilm X-T20 muda completamente a operação em relação às T2 e Pro 2. O único slot para cartão de memória fica embaixo da câmera, dentro da porta para a bateria, diferente dos modelos mais caros com slots duplos de cartão na lateral; ambas também com suporte ao padrão mais novo (e veloz) UHS-II (até 320MB/s); uma enorme diferença para quem fotografa ação em disparo contínuo. Também este slot da T20 é impossível de acessar com a máquina sobre um tripé, além de ser extremamente profundo no compartimento da bateria. É bizarro, mas trocar de cartão de memória na T20 é difícil: com a bateria montada, praticamente não sobra espaço para “apertarmos” o cartão e ele “pular” fora do slot, complicando o uso de algo que deveria ser simples. Pelo menos a bateria NP-W126S de 1260mAh é a mesma entre todas as câmeras Fujifilm X, apesar da duração ser baixa em comparação a uma DSLR: apenas 350 fotos ou 70 minutos de vídeo 4K (90min. HD), o eterno calcanhar de Aquiles das máquinas 100% eletrônicas. A parte boa é que a bateria pode ser carregada internamente na câmera, usando energia da porta USB (yay!I), mas mesmo assim a Fuji entrega um carregador de bateria na caixa. Aprende, Sony!
Do outro lado as conexões USB2.0 (meh…), microfone (de 2.5mm, menor que o padrão de 3.5mm) e HDMI ficam debaixo da provável “melhor porta” que já vi na vida: dura, grossa e resistente, apesar de não ser vedada contra água. E em cima da câmera eu comentarei sobre o viewfinder num parágrafo específico. Eu até poderia resmungar que não há saída para fones de ouvido na X-T20, mas como o plugue HDMI dá saída 4K “limpa”, sem overlays e com feed 8-bit 4:2:2 para vídeo, ela é boa demais para reclamar. :-) A Fujifilm X-T20 cai como uma luva na linha X-mount, e está um passo a frente do restante do mercado; como todas as câmeras Fujifilm. A construção embora “reduzida” mantém quase a mesma solidez e experiência das máquinas maiores, e a ergonomia agradará tantos os iniciantes pelo layout simplificado, “direto ao ponto”; quanto os intermediários e profissionais, que verão neste modelo uma “baby X-T2”. Mas o destaque mesmo está para a performance que ela entrega, praticamente idêntica a das câmeras Fujifilm mais caras.
A melhor parte das câmeras Fujifilm X, e uma característica herdada pela T20, é a performance e a agilidade na operação. Não somente tudo está no lugar esperado para quem vem de uma câmera maior deles (T2/Pro 2); nem somente a operação por discos físicos será apreciada por usuários novos do sistema; mas a velocidade que “entramos” os controles na câmera e ela “responde” (foco, disparo, menus…) é líder no mercado. Enquanto todas as Sony Alpha testadas até aqui (A7II, que é base para as A7RII e A7SII; A6300 e A6500) demoram pelo menos dois, três segundos para ligar, e precisam de vários “inputs” para mudar entre modos de exposição; a ideia de uma Fuji X é que você faça tudo isso praticamente com a câmera desligada. Basta entrar os valores da exposição direto nos discos físicos de operação, e a câmera estará “pronta”, antes de ligar. O processo de ligar/desligar (“boot”) da X-T20 continua rápido, em menos de meio segundo (0.5s), e tudo o que você “aperta” na câmera é praticamente instantâneo. A única exceção é o playback: espere longos 01, 02 segundos para a X-T20 mostrar a revisão da foto na tela LCD, o que é péssimo.
No dia-a-dia a operação da X-T20 é prática e ágil. Sob bastante luz a focagem automática é praticamente instantânea com as objetivas XF (falaremos mais sobre o foco a seguir), e a T20 quase não “trava” nunca; nem em disparo contínuo. Os valores máximos declarados pela fabricante são de até 14 quadros por segundo em modo de obturador eletrônico; 8 quadros com o obturador físico; e 5 quadros por segundo com previsão em tempo real da imagem na frente da câmera; números equivalente à rival “sem espelho” A6300, ou até mesmo às T2/Pro 2 (apesar da T2 ir até 11fps com obturador mecânico, quando usada com o grip de baterias). O que a T20 fica para trás, porém, é no espaço interno (buffer) antes dela travar o disparo: são excelentes 22 arquivos raw sem compressão, atrás dos 33 raw da irmã maior T2. A diferença principal é que a câmera mais cara suporta dois cartões de alta velocidade UHS-II (até 320MB/s), enquanto a T20 está limitada ao UHS-I (até 104MB/s). Ou seja, a T20 pode demorar um bocado para escrever as fotos no cartão, enquanto a T2 praticamente não trava o disparo. Com boa técnica, a T20 continua rápida.
Parte de tamanha performance nesta faixa de preço, e em todo o lineup da Fujifilm, é o uso do processador X-Processor Pro; o mesmo das Pro 2 e T2. Com ele é possível fotografar em formato raw+JPEG sem perda de velocidade; acessar os menus e o playback da câmera mesmo enquanto ela grava os arquivos da memória para o cartão; e principalmente migrar as simulações de película – uma exclusividade da Fujfilm – para todas estas câmeras de segunda geração. A X-T20 mantém os simulações de filme Provia, Velvia, ASTIA, classic chrome e principalmente ACROS (preto e branco), que eram o grande “tesão” do sensor X-Trans III da X-Pro 2 no início de 2016. Junto da simulação de “grânulo” em dois estágios (fraco ou forte), extremamente orgânico e suave direto nos arquivos JPEG – quase cômico num mercado onde todos desejam arquivos livres de ruídos – ,pela metade do preço você mantém as mesmas possibilidades criativas das câmeras mais caras, porém agora na câmera intermediária de US$899. O investimento vale totalmente à pena para quem procura uma máquina fotográfica diferenciada, menor e com a mesma qualidade das Fuji tops.
O que a Fujifilm não conseguiu manter na X-T20, porém, foi a qualidade das telas dos outros modelos; compreensível para a faixa de preço reduzida. Não que estes sejam um viewfinder e um LCD ruins. O LCD, por exemplo, mantém a mesmíssima resolução e dimensão da X-T2 em 3.0” com 1.04 milhões de pixels na proporção 3:2, e agora trás a novidade da sensibilidade ao toque, que ficou de fora da câmera mais cara. Esta tela ainda “sai do corpo” com inclinações para cima (90º) e para baixo (45º) – não há o giro lateral como na T2 -, e é construída numa solidíssima estrutura de alumínio. E o viewfinder OLED é padrão nos últimos três anos de mercado, com 2.36M de pixels numa telinha de 0.39”, com um conjunto óptico de cristal com quatro elementos e ampliação 0.62x; menor que a X-T2 de 0.5” e 0.77x, apesar da mesma definição. Mas o problema está na experiência que estas duas peças oferecem, ainda eletrônicas, e não substituem uma DSLR “de verdade”.
Vamos começar pela tela LCD: com a mesma resolução e dimensão da X-T2, e os mesmos comentários. A experiência é “padrão” para uma câmera de 2017/2018, e já beira o “injusto” nesta faixa de preço. Por exemplo a Canon T4i de 2012: ela oferecia a mesma tela, com as mesmas especificações; mas há cinco anos atrás. Eu sei, eu sei, parece ridículo resmungar da tela LCD, mas é nela que você “passará” boa parte do tempo com a câmera. Então fica no mínimo questionável vermos este LCD numa câmera tão nova (a X-Pro 2 e EOS M5, de US$1699 e US$949, oferecem telas maiores de 3.2” e 1.6 milhões de pixels), e eu preciso comentar: está na hora de termos telas melhores por US$899. Outro problema é na utilidade da “nova” sensibilidade ao toque: não serve para nada além de escolher a área de foco, ou passar de uma foto para outra durante o playback. Sabe o gesto de mudar as abas do menu pelo toque da T4i de 2012? A X-T20 não tem. Sabe “tocar” os “botões” gigantes do menu rápido “quick” da T4i de 2012? Pois é, cinco anos depois, e a X-T20 não tem. É outra oportunidade perdida pela Fuji, e precisamos de telas melhores em 2017.
Já o viewfinder eletrônico traz todo o tipo de problema na experiência, e beira um pecado para a Fujifilm que tem os excelentes viewfinders híbrido nas X100/X Pro; ou enorme viewfinder OLED das T1/T2. Primeiro, a sensibilidade do sensor automático de proximidade é ruim na T20: você trás a câmera aos olhos, e a tela leva uma eternidade para ligar (Canon M5 também é culpada). Quem já usou uma Sony (todas) sabe como estes EVFs pode ser instantâneos, mas isso não acontece na X-T20. Segundo, a imagem eletrônica da telinha OLED continua a mesma das outras câmeras: com defeitos de moiré e aliasing, cores duvidosas e o contraste alto. Há quem compare uma tela OLED com um visor óptico, mas não dá: estas telinhas tem muito o que melhorar, e a experiência fica prejudicada. Pior, a “taxa de atualização” da T20 está em apenas 54fps, bem atrás da T2 (até 100fps) ou da A6300 (120fps); inexplicável para a plataforma da Fuji. Mas o ruim mesmo é a óptica “bruta” deste viewfinder: apertada e “extrema” demais, com distorção geométrica lateral. Você “força” o olho pra enxergar uma imagem distorcida, e é incomodo de usar. A peça de borracha circular também não ajuda a “cobrir” os reflexos da luz externa e, repito, é incomodo de usar. Aprecio o carinho da Fuji em incluir um sistema de 4 elementos ópticos neste viewfinder – ele é extremamente nítido -, mas o modelo é simplesmente pequeno demais. Fiquem avisados!
Superada a “sofrência” com o viewfinder da X-T20, de resto a câmera é “só maravilha”. Além da operação rápida, outro destaque é a “simplificação” do sistema de foco: tudo funciona como deveria e há pouco o que reclamar. Nesta câmera menor aparentemente a Fuji uniu a engenharia das duas topo de linha: são 49 pontos phase embutidos no centro do sensor em 40% da área, distribuídos em 91 ou 325 “pontos” híbridos de contraste com cobertura 50% vertical e 75% horizontal; todos selecionáveis em pontos únicos, zona ou automáticos (com sensibilidade à rostos e ao olho do sujeito). Sim, a X-Pro 2 tem 77 pontos phase e a T2 tem 169, porém a flexibilidade é largamente a mesma na T20 com apenas 49. Emprestado da X-T2 e ausente da Pro 2 (pelo menos no firmware que eu testei), porém, estão as opções de algoritmo preditivo durante a focagem contínua da T20: são 05 “casos” de sensibilidade, velocidade e mudança de pontos, apenas sem os ajustes precisos de prioridade/sensibilidade da T2. O único problema da T20 é a sensibilidade à luz: sem declarar um valor preciso de EVs, ou mesmo se ela tem pontos cross-type, a T20 pode sofrer no escuro. Mas no geral a performance é excelente: difícil tirar uma foto fora de foco com a T20.
Sob bastante luz e contraste, e ainda usando os pontos próximos da área central do quadro (phase), a velocidade do foco da Fuji X-T20 é exemplar. Aqui demonstrada com a objetiva XF 50mm f/2 R WR, a T20 lembra o sistema de foco mais avançado do mercado: o Canon Dual Pixel. Enquanto as duas fabricantes “briguem” por números de marketing, “0.08s” na Fuji e “0.05s” na Canon, na prática a T20 tem a mesma performance de qualquer câmera topo de linha: apertou o botão, ela trava e confirma o foco instantaneamente. O sistema híbrido dá preferência à medição phase, diferente da Sony que dá prioridade ao contraste (e a precisão), e tudo funciona bem. Quando selecionamos alguns dos “pontos” fora da área central (sem medição phase), a T20 até dá aquela “buscadinha” no foco, mas a velocidade ainda é alta: a confirmação é feita em menos de 0.5 segundo, e lembra a performance das Panasonic antigas (2011), com foco por contraste rápido.
Já sob pouca luz, a Fuji X-T20 pode ser pouco confiável; ainda sem declarar de fato qual é a sensibilidade mínima do sistema de focagem. Por exemplo em ambientes fechados e iluminados somente por lâmpadas, a velocidade do foco automático cai para justos 0.5-0.7 segundos, mesmo usando os pontos centrais com detecção phase. Sob pouca luz a câmera claramente dá uma “buscadinha” maior no foco, embora a velocidade continue aceitável; já ví DSLRs com um sistema mais sensível demorarem praticamente a mesma coisa para confirmarem o foco. Mesmo em modo de simulação de exposição a câmera amplifica o sinal do sensor para encontrar a distância no escuro, e fica fácil encontrar o contraste em sujeitos nítidos. Enquanto a precisão varie e toda essa declaração seja sobre sujeitos estáticos, a X-T20 não tem “medo” de tentar focar sob pouca luz.
A seleção dos pontos de foco também é padrão para este tipo de câmera: ponto único, zona ou área automática. O ponto único pode escolher qualquer uma das 325 áreas de focagem (grid 13×25), com opção para apenas 91 áreas (7×13); a fim de agilizar a escolha. Uma excelente função é a mudança no tamanho deste “ponto único” (a Sony também faz isso), tão rápida quanto girar o disco traseiro durante a seleção, e “abriga” de 9 à 15 pontos ao mesmo tempo; com maior chance de encontrar o foco no lugar certo. O sistema de zona limita às opções à 91 pontos, e une ainda mais pontos, também com opções variáveis de tamanho (como a Canon faz nas “zonas grandes”). E o sistema automático oferece opções de “tracking” (acompanhamento) com prioridade à rostos ou aos olhos, apesar de eu não ter encontrado alguma função para acompanhar objetos pela cor. Novamente, todos funcionam como deveriam, e a performance é aceitável: o tracking de rostos é eficaz com o sujeito bem na frente da câmera (a Sony leva vantagem, detectando pessoas até de lado), e o sistema de busca pelos olhos do sujeito é inconsistente sob pouca luz. Nenhum deles é “revolucionário” como algumas Sony recentes, mas funciona na X-T20 da linha intermediária.
Novidade na X-T20 é a inclusão da tela sensível ao toque; pouco explorada pela interface dos menus, porém com opções interessantes para a focagem automática. A mais clara e óbvia é a possibilidade de escolher a área de foco instantaneamente pelo toque na tela: em modo único ou zona, basta “tocar no sujeito”, e a câmera “pulará” para os pontos naquele lugar. Curiosamente esta função não existe no modo automático/tracking, portanto realmente não há como seguir um objeto para usar a técnica do focar&recompor (se vocês descobrirem como fazer isso, enviem no inbox do www.facebook.com/vlogdozack). Outra opção de toque pode também disparar o obturador junto do foco, e é ainda mais prática. Por outro lado os gestos avançados como a função “touch pad” da tela LCD, vista nas Sony A6500 e Canon EOS M5, que substituem um joystick físico para acelerar a mudança de área de foco intuitivamente, não existe na T20 (nem o controle físico em si). Enfim a tela sensível ao toque é bem-vinda, útil também durante a gravação de vídeos, mas a Canon está claramente cinco (05!) anos à frente nestas interfaces, desde a T4i de 2012.
Já o sistema de focagem contínua é uma surpresa na X-T20: com praticamente a mesma performance das câmeras mais caras T2/Pro 2, apesar de tecnicamente mais limitado. Em modo contínuo a T20 é capaz não somente de acompanhar o sujeito quadro-a-quadro, como também calcular e prever a posição do próximo ponto de foco; a fim de fotografar sequências inteiras de ação. As áreas de seleção continuam as mesmas (ponto, zona, wide), embora a câmera tenha ainda maiores dificuldades em encontrar rostos sozinha; prefira limitar a área de busca manualmente. Mas avançadas mesmo, e nunca vistas antes nesta faixa de preço, são as opções de customização do algoritmo preditivo; antes um luxo do mercado ultra-profissional de câmeras topo de linha. São cinco casos pré-estabelecidos: com prioridade à sujeitos vindo em direção a câmera; sujeitos que mudam de posição; sujeitos que mudam de velocidade; e sujeitos com obstáculos (ou não) na frente. São os mesmos da X-T2, porém sem os três ajustes específicos do algoritmo. E, novamente, na prática tudo funciona: sob bastante luz e com boa técnica do fotógrafo, é possível acompanhar sujeitos em movimento para sequências totalmente em foco.
Carregando a tocha da X-T2 (e até do novo firmware da X-Pro 2), o vídeo com dimensão 4K UHD não poderia ficar de fora da Fuji X-T20. Francamente quase padrão no mercado (viu, Canon?), a transição para o 4K está completa (qualquer smartphone faz; as TVs estão quase o mesmo preço), e está na hora de deixar o FullHD para trás. Na X-T20 a gravação segue a mesma “sofrência” das outras Fujis, sem botões dedicados de vídeo, nem ajustes limitados de perfil de imagem direto na câmera; mas, hey, 4K é 4K! A T20 difere da T2 ao fazer uma captura 4K por “line skipping” em todo o sensor de 24.3MP, enquanto a T2 o faz por “pixel binning” à partir da imagem completa “6K”; visivelmente mais nítida. A gravação da T20 também exclui a opção do perfil Fuji Log (F-log) na saída HDMI, além de qualquer compatibilidade com um battery grip externo (que na T2 aumenta o tempo de gravação de vídeo). O que sobra são as mesmas opções de 4KUHD 3840×2160 (não é DCI) à até 30fps; com opções de 24fps, controles totalmente manuais de exposição ou mesmo ISO-Auto. A Fuji também se gaba da simulação de película durante a gravação de vídeo, porém estes perfis visualmente limitam o dynamic range e a flexibilidade do processamento de cores dos arquivos. No final a X-T20 é um passo abaixo da X-T2, mas na prática os arquivos 4K são, er… 4K!
A nitidez na gravação dos arquivos em dimensão 4K é inegável, e a Fujifilm X-T20 faz um excelente trabalho em capturar e comprimir os vídeos; apesar de estar atrás da concorrência. A Sony A6300, por exemplo, mantém o mesmo sistema de pixel binning com captura 6K “reduzida” para o 4K da X-T2, mas a T20 não faz o mesmo; reduzindo um pouco dos detalhes nesta câmera. A compressão para H.264 “roda” a 100mbits como nas outras câmeras, e flerta com o limite do aceitável: o 4K tem 4X a dimensão do FullHD, portanto a equivalência seria à um HD de 25mbits; o mesmo que uma T7i à 30fps; e metade do que a Sony faz no FullHD deles (50mbits, aceitáveis até para broadcast). Esta limitação é visível em cenas de muitos detalhes e muita ação (X-T2 também sofria com isso), mas todas estas câmeras tem um incrível “porém”: a saída HDMI dá saída “limpa”, sem compressão aos arquivos, para gravadores externos em 8-bit 4:2:2. Neste caso a “qualidade de imagem” dependerá do formato da gravação externa, e beira o revolucionário nesta faixa de preço. É possível dar saída de alta qualidade num equipamento portátil, e de fato é o futuro; a X-T20 está pronta para isso.
Durante a gravação a exposição pode ser totalmente automatizada, embora os interessados em vídeo queiram usar a exposição manual. Tudo é “selecionável” pelos anéis físicos da Fujifilm, e a experiência é largamente a mesma de tirar fotos. O foco automático também funciona, porém sem as opções de zona ou área automática; muito menos a opção de seleção automática de rostos (!). A focagem pode acontecer ou 1) antes da gravação ou 2) continuamente, embora ela seja bastante “nervosa” neste modo. A X-T20 (ou mesmo a T2) não são “seguras” para escolher um sujeito e fixar o foco nele, e não há qualquer ajuste de velocidade de transição ou prioridade de troca de sujeito. Realmente as Canon com tecnologia Dual Pixel estão boas duas, três gerações à frente de qualquer câmera do mercado neste quesito. O que é curioso: eu esperava uma performance mais confiável da Fuji X-T20 com pontos de foco phase embutidos no sensor, mas ela não é. Prefira filmar com o foco manual, que ainda dá assistência por peaking (durante) ou ampliação (antes) da gravação.
Outras limitações da X-T20 estão no software da Fujifilm. Misteriosamente, todas estas câmeras só gravam até 10 minutos de vídeo 4K, independente do tamanho dos arquivos ou das legislações locais (na Europa as câmeras com gravação além de 30 minutos são taxadas como filmadoras). Na X-T2 o limite de 10 minutos magicamente desaparece com a “power boost grip” externo (US$329), mas não há este acessório para a T20. Ou seja, nada de gravar vlogs e depoimentos longos com esta câmera. Também, as opções de configuração do perfil da imagem são limitadas às simulações de película que, como citado, reduzem dramaticamente o dynamic range da imagem. Não há opções para reduzirmos o contraste, sequer ligar o redutor de ruídos; aparentemente o processador X-Processor Pro não é veloz o suficiente para isso (ou esquenta demais). Ainda, diferente da concorrência, não há qualquer sistema de estabilização na T20 (nem na T2); seja físico (como na A6500) ou eletrônico (como nas Canon com processador DIGIC7). Ou seja, a T2 é uma câmera que grava sim vídeos 4K, mas por enquanto não substituirá uma filmadora “de verdade”.
Como qualquer câmera de 2017, não poderia faltar na X-T20 alguma forma de comunicação sem fio. Uma função virtualmente “inventada” na Canon EOS 6D de 2012 (em câmeras de sensor grande e troca de objetivas), e aperfeiçoada nesta fabricante desde então (com recursos avançadíssimos, como vimos nos reviews em vídeo das EOS 5D Mark IV, e no vídeo manual da EOS 6D Mark II), nas outras marcas as opções ainda são deveras limitadas, mas… funcionam. A Fujifilm fez a lição de casa em lançar um aplicativo para iOS/Android chamado “CAMERA REMOTE” (EM CAPS LOCK), e todas as suas máquinas recentes vem com um emissor Wi-Fi b/g/n embutido (nada de Bluetooth + NFC). A própria câmera cria uma rede sem fio aberta (infraestrutura), e o smartdevice conecta-se a esta rede. As duas partes podem trocar informações à distância, e começa a diversão.
A conexão sem fio da X-T20 é limitada, embora eficaz. O pareamento entre a câmera e o telefone celular é feito apenas pela conexão sem fio de um no outro, e basta entrar na rede com o nome da câmera para o aplicativo reconhecê-la, e liberar os controles. Um detalhe: a opção “WIRELESS COMMUNICATION” (TAMBÉM EM CAPS LOCK) está escondida no menu “SHOOTING SETTINGS” da X-T20; e não na aba “SET UP”, onde fica o ajuste de “CONNECTION SETTING”. Ou seja, as duas fazem parte da mesma função, mas estão a pelo menos cinco clicks de distância na interface da câmera. Também, outro problema irritante: qualquer mudança de função no aplicativo CAMERA REMOTE, que veremos a seguir, efetivamente desconecta a câmera (!) e desliga-a (!!) à distância. Ou “seje”, nada de planejar algum uso criativo como deixar a X-T20 montada num drone, e dispará-la a distância. Vira e mexe, você tem de “entrar” toda a conexão de volta nos menus da câmera.
A interface do aplicativo CAMERA REMOTE também é rudimentar (#sdds Android Oreo ou iOS11), apesar de completa. A função principal é a de controle remoto da X-T20, que reproduz quase todos os comandos físicos da câmera, mas na tela do smartphone. É possível remotamente ajustar valores de abertura da objetiva e velocidade do obturador – desde que não estejam na posição “A” na câmera – além de mudar o valor do ISO (num botão gigante), modo de foto e vídeo; todos os ajustes de simulação de película, balanço do branco e até o flash; tudo longe da câmera. A previsão da exposição e da composição são em tempo real, e a rede Wi-Fi é “sólida” para bons 4-5 metros de distância. Embora a interface seja bastante rudimentar, por exemplo fixa na orientação vertical e com valores numéricos mudados por setas (não réguas gráficas ou carrossel), a oferta de controles agradará quem deseja controlar a T20 à distância. As T2 e Pro 2 são compatíveis com o mesmo app.
Na hora de descarregar as fotos no celular, a interface também é pobre, apenas com a opção de “importar” uma ou mais fotos. Na própria câmera podemos ajustar a dimensão do arquivo a ser copiado (reduzido para 3MP), e somente os arquivos JPEG são transferidos. Ou seja, não é possível um fluxo avançado de trabalho, como passar os raw da sua Fuji para trabalhar num iPad Pro; nem trabalhar no estúdio com tethering sem fio (como nas EOS topo de linha). Também, o fluxo da UI do CAMERA CONNECT é ridículo: se você ir e voltar do menu principal, a câmera se desconecta do celular, e misteriosamente desliga sozinha! Repito, é um pé no saco ter de re-ligá-la manualmente o tempo todo, além de ficar “catando milho” nos menus da T20 para reconectar os dois. Há outras funções avançadas semelhantes às da Canon, como gravar (“log”) a posição geográfica do smartphone para então transferir às informações às fotos, mas ela é instável. Enfim a Fuji X-T20 tem uma boa conexão sem fio, mas também está anos atrás do que já vimos nas Canon EOS.
Uma última palavra sobre a usabilidade da X-T20 está na excelente fotometria deste sistema sem espelho; graças ao processamento rápido do chip Processor Pro. São quatro modos básicos de fotometria – matricial, central, spot e mediana -, proximamente relacionada com o foco automático. Por exemplo com as opções de detecção automática de rostos e olhos, a exposição é associada com a posição do sujeito, sem sequer oferecer os modos manuais; garantido retratos perfeitos, sempre. Também é possível associar a fotometria spot com o ponto de foco selecionado – uma função que eu queria muito que a Canon fizesse nas suas DSLR -, e novamente todas as exposições são perfeitas. Embora eu ainda não tenha experimentado o sistema de flashes da Fujifilm (eu trabalho com Canon), no dia-a-dia absolutamente nenhuma foto saiu mal-exposta em todo este review da X-T20: ela é confiável, rápida e prática de usar, sem compensação.
Repetindo o mesmo trio de processador “Processor Pro”, sensor CMOS APS-C X-Trans de 3ª geração com 24.3MP (6000×4000) com arranjo de cores inovador, sem filtro low-pass; e baioneta de montagem Fuji-X – as mesmas características das câmeras Fujifilm topo de linha Pro 2 e T2 – a Fuji X-T20 “fecha o negócio” com umas das melhores qualidades de imagem no mercado APS-C. À frente das Sony A6300/A6500, ambas sem características marcantes nos arquivos (embora excelentes); e quase tão flexível quanto a top Nikon D500 (em resolução percebida); além de anos luz à frente de qualquer sensor APS-C da Canon (que usa a tecnologia de foco Dual Pixel); por apenas US$899 você leva o melhor que uma câmera compacta oferece hoje, claramente visível em, me perdoem a arrogância, “fotos melhores”. Não sei qual característica me agrada mais: a nitidez do sensor sem filtro low-pass; ou a quantidade de informações de luzes e sombras mantidas nos arquivos raw; ou a performance dos ruídos sob ISOs mais altos; ou a aparência dos JPEG direto da câmera, tratados com a simulação de película; ou a qualidade das objetivas Fujinon. O fato é: “qualidade de imagem” não fica melhor do que isso, e a X-T20 é a “compacta definitiva”.
A resolução percebida é assustadora no sistema da Fuji; desde que você use uma objetiva de alta performance (não essa). Aqui testada principalmente com a nova XF 23mm f/2 R WR (review em breve) nas paisagens estadosunidenses, impressiona como os arquivos da X-T20 podem ser tranquilamente impressos ao lado dos da DSLR topo de linha Canon EOS 5DS (que tem 50.6MP brutos). O arranjo “exótico” do sensor X-Trans realmente oferece 20% maior resolução espacial com os pixels verdes em formação retangular maior e, como os outros canais vermelho e azul não geram moiré, a ausência do filtro low-pass (já aprendemos sobre ele aqui) realmente rivaliza a melhor das DSLR. Novamente, não são todos os vincos das pedras numa montanha; são detalhes de pedregulhos e animais escondidos a centenas de metros de distância. Fotos de florestas capturam detalhes em todos os troncos das árvores, e objetos mundanos ficam quase “vetoriais”, de tão nítidos que são. Realmente a Fuji está um passo à frente na qualidade de imagem, e a T20 repete esta performance num corpo menor, mais prático de usar (leve), e agora por US$899.
“Apgar” com a XF 23mm f/2 R WR em f/9 1s ISO100. “Bowman” com a XF 23mm f/2 R WR em f/5.6 1/110 ISO200. “Weather” com a XF 23mm f/2 R WR em f/8 1/640 ISO800. “Montana” com a XF 23mm f/2 R WR em f/8 1/1500 ISO400.A capacidade dos arquivos raw em manter e recuperar os valores de luzes e sombras depois do tratamento também impressiona; novamente à frente do que é possível com os sensores EXMOR desta geração das Sony A6300/A6500. Ajustes grosseiros de +3EV, +4EV e +50 nas sombras revelam apenas uma “malha” suave de ruídos em zonas sub-expostas, sem mostrar problemas nas cores, como encontramos nas Canon APS-C Dual Pixel (e até full frame; desculpe 6D Mark II). É incrível “brincar” com os arquivos raw de 50MB para revelar exposições completamente diferentes num único click, dispensando largamente a técnica do bracketing; e abrindo possibilidades criativas infinitas. A recuperação das luzes estouradas no céu/spots de luz também impressiona em pelo menos -3EV, flexível para trabalhar sob situações mistas de luz, contra ou à favor dela. E como, repito, não temos problemas nas cores depois de tamanha compensação, é possível gerar looks diferentes para cada arquivo, muito além de apenas “mudar” o balanço do branco.
Sob ISOs mais altos os arquivos da Fuji X-T20 ganham uma textura suave e orgânica a partir de 800. O impacto na reprodução de detalhes segue constante até o ISO12800 nativo, com a “união” de pontos adjacentes na interpolação do sinal, destruindo detalhes finos visíveis em ISOs menores. O interessante é como o arranjo de cores inovador do X-Trans mantém linhas horizontais nítidas mesmo nestes valores mais altos, e indica outra vantagem do formato exclusivo da Fujifilm. Porém são as cores que levam vantagem nesta terceira geração do sensor CMOS: com a mesma fiação de cobre dos chips EXMOR da Sony, os arquivos praticamente não perdem a fidelidade dos tons sob pouca luz, um problema do formato APS-C menor no passado. Enquanto os arquivos não sejam realmente “limpos” para trabalhar em situações complicadas de luz, nenhuma câmera realmente é, a Fujifilm X-T20 mantém a performance das irmãs mais caras do formato APS-C.
Já as cores dos arquivos da T20 mantém a mesma “confusão” da Fujifilm, desde o lançamento do sistema X-Trans. Enquanto os arquivos JPEG direto da câmera são incríveis – falaremos sobre eles a seguir -, os arquivos raw dependem bastante do tratamento e do software usado na conversão. Diz a lenda que o engine da Adobe por trás dos aplicativos Camera Raw (Photoshop) e Lightroom não interpretam “à risca” o arranjo de cores da Fuji, e você nota como os arquivos precisam de boost na saturação para reproduzir a mesma qualidade vista na câmera. O aplicativo FUJIFILM X RAW STUDIO (DE NOVO TUDO EM CAPS), exclusivo para macOS (uma versão para Win10 estará disponível em fev/2018) gera não somente cores melhores como maior nitidez, e fica difícil julgar os tons da T20. Uns dizem que as fotos são mais “quentes”, outros dizem que os amarelos são “reais”. No final das contas eu noto apenas que os azuis são mais opacos mesmo, e os laranjas e rosas são mais intensos. Isso agradará quem gosta de tons vividos, mas é distinto no mercado.
Por fim os arquivos JPEG direto da X-T20 mantém a qualidade das T2 e Pro 2: absolutamente os melhores do mercado fotográfico! Com uma proposta diferente de sensor, a ideia é simular as películas Fujifilm do passado, agora no digital. São nove opções: PROVIA / Standard, para sujeitos variados; Velvia / VIVID, com cores vibrantes e contraste altíssimo; ASTIA/SOFT, com baixo contraste e tons mais puxados para o rosa; CLASSIC CHROME, com cores neutras e contraste mais puxado para as sombras; PRO Neg. Hi, feito para retratos de alto contraste; PRO Neg. Std, também para retratos porém com contraste reduzido; ACROS, preto e branco de alto impacto, com detalhes nítidos; MONOCHROME, para P&B padrão; e SEPIA. Além das cores, o efeito de grânulos (“grain effect”) foi mantido na X-T20; ele não existe na linha básica da X-A2. Com duas intensidades, forte e fraco, o efeito gera uma fina textura de ruídos sobre os arquivos JPEG, a fim de realçar as transições de tons, e emular também o aspecto das películas. E o resultado dos dois é incrível: os JPEG saem quase prontos direto da câmera, com cerca de 12-15MB cada (!), para publicação imediata.
Um dos reviews mais atrasados do blog e do vlog do zack, e por um bom motivo: uma das melhores câmeras “fora de estoque” de 2017, a Fuji X-T20 mantém praticamente a mesma performance e qualidade das irmãs maiores e mais caras, com mínimas concessões. O corpinho compacto perde o equilíbrio com as objetivas XF zoom e a proteção contra os elementos, e os botões são ultra-plásticos. A experiência do viewfinder fica prejudicada por uma tela OLED pequena, mas a câmera cabe “nos bolsos” que nenhuma outra Fuji X vai (pelo menos com troca de objetivas). A tela LCD ganha a sensibilidade ao toque, ainda pouco explorada. E tecnicamente a flexibilidade do foco automático e do disparo contínuo é reduzida; embora extremamente capaz. Mas os controles continuam todos “táteis” como as câmeras maiores, e o sistema de objetivas Fujinon XF e XC é o único a levar a sério o formato APS-C, e a proposta mirrorless: portabilidade e qualidade acima de tudo, por um preço justo. E esta é a X-T20: a melhor compacta sem espelho, e você não paga muito por isso. É a realização perfeita da câmera moderna. Divirta-se e boas fotos!