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Fevereiro/2018 – A 50mm f/2R WR é a terceira objetiva da linha “f/2R WR” apresentada pela Fujifilm para o X-Mount. Praticamente um clone da excelente 35mm f/2 R WR, apresentada junto da câmera X-Pro 2 em 2016, e um passo largo à frente da primeira linhagem “f/2 R” (sem WR, como a questionável 18mm), a ideia é oferecer uma alternativa às primes de grande abertura f/1.2 e f/1.4, e manter a mesma qualidade “topo de linha” prometida para a classe “XF” (oposta à XC). Ficam as tecnologias “R” (“ring”, indicando o anel físico de abertura) e “WR” (“weather resistance”, contra poeira e respingos d’água), mas saem as imensas aberturas f/1.2-f/1.4, ou outras funções como o motor de foco LM (“linear motor”, da 18-135mm) e o OIS (estabilizador óptico). Sobram a leveza, a performance, a facilidade no uso e o preço. Por apenas US$449 recebemos outra jóia da Fujinon, e uma peça obrigatória no seu kit APS-C. Vamos conhecer? Boa leitura! (english)
Para quem já tem a XF 35mm f/2 R WR, este artigo é praticamente redundante: esta 50mm e a 23mm “f/2 R WR” são praticamente iguais, com a mudança apenas na distância focal; e as dimensões físicas que contemplam o projeto óptico mais longo, ou mais curto. Em 6cm x 5.5cm (sem tampas) de 200gr (!) de metais e vidros, a XF 50F2RWR é quase “a maior” 50mm com abertura “abaixo” dos f/1.8 que já vimos por aqui (aqui e aqui), e também uma das mais longas. Só a espetacular Sony FE55F18 consegue ser maior, mas aquela é uma peça que atende até o formato 135 “full frame”; enquanto esta Fujinon é somente APS-C. Longa e pesada, a 50mm f/2 casa muito bem com todas as câmeras do X-mount que já vimos por aqui (Pro 2, T2, T20, A2), apesar de estar no limite do que eu julgo “portátil” numa câmera mirrorless. Ela não caberá “nos bolsos” como um smartphone, mas é muito menor que qualquer alternativa para o full frame, ou para as DSLRs.
A construção é sempre um destaque nas peças Fujifilm X, e a XF50F2RWR mantém a tradição. O tubo interno é “sólido” de policarbonato resistente e leve, coberto por uma segunda “luva” de alumínio anodizado durável, aqui apresentado na cor preta. Todos os anéis de operação manual também são metálicos e “gelados”, ainda com o acabamento do mount (atrás) e do trilho para parasol/filtros (na frente), todos de metal. Outro destaque vai para o tal “WR” weather resistance, corajosamente declarado pela Fujifilm, compatível com as câmeras Pro 2 e T2: um anel de borracha “veda” a baioneta de montagem entre a câmera e a objetiva, e você nota como os anéis de operação “deslizam” sobre borrachas, a fim de proteger o equipamento contra os elementos do lado de fora. Ainda, as primeira e última peças de vidro são imóveis e contribuem para a vedação, e a construção da 50F2RWR é um exemplo para o restante do mercado. Já vimos peças bem mais caras que não chegam aos pés da durabilidade desta Fujinon, e a conclusão é clara: o X-mount está sozinho no topo do mercado mirrorless APS-C, e é um benchmarck para as outras fabricantes.
Nas mãos a experiência é largamente a mesma de outras objetivas XF prime que já vimos por aqui, apenas mais longa. O anel de foco manual é generoso e fácil de usar, incrivelmente “seguro” para não escorregar nos dedos, mesmo sem vir coberto por uma borracha. O mecanismo é totalmente eletrônico e dita para o motor interno movimentar o grupo de focagem, o que pode ser um pouco impreciso: testada na Fujifilm X-A3 notamos um claro atraso entre o comando no anel e a resposta do motor, o que pode prejudicar a operação nas ruas; prefira o foco automático. E atrás o anel de controle manual da abertura ativa o modo “prioridade da abertura” diretamente na objetiva, com clicks mais duros nos valores cheios (f/2, f/2.8…) e suaves nos 1/3 (f/2.2, f/2.5…). A operação tátil é um charme nesta fase “toda eletrônica” do mercado fotográfico, apesar de imperfeita: a opção A (automática) está oposta à posição da abertura máxima f/2, o que impede “forçar” rapidamente a baixa profundidade de campo na fotografia de rua. O ideal seria uma posição “A” nos dois lados, ou a chave A/abertura da XF 18-135mm, mas nada disto está nesta 50mm. A operação fica relativamente prejudicada, apesar de ser única no mercado mirrorless.
Do lado de dentro a Fujifilm oferece apenas o motor de foco automático, sem o estabilizador de imagem, e declara o uso do stepping motor como o das Canon STM. Na XF 18-135mm o motor linear “LM” é indicado como responsável pelo silêncio e velocidade no foco, mas na XF50F2RWR o stepping motor largamente mantém as mesmas qualidades. Testada com a recente X-T20 e seus 49 pontos de detecção phase, a velocidade do foco automático é exemplar: claramente os 0.08s declarados pela fabricante sobre a câmera são entregues pela objetiva, e tudo é rápido. Durante a operação do foco único (AF-S), seja com muita ou pouca luz, a focagem não é uma preocupação: basta apertar o botão na câmera, a ela “trava” sem dificuldades o foco. E na operação contínua AF-C, a operação é a mesma: apesar de variar com a técnica e a movimentação do sujeito, consegui algumas (não todas) sequências completas de ação em foco, sem grandes esforços. Por último na gravação de vídeos não escutamos ruídos, e tudo é discreto e rápido.
Enfim na frente a XF50F2RWR aceita filtros de ø46mm, maiores que os de ø43mm das 23/35mm semelhantes, “rosqueados” num trilho de alumínio anodizado resistente. O parasol “50” incluído na caixa é uma peça de plástico (os das 18/35 são de alumínio) e prende num trilho específico para ele (por pressão), e cresce ainda mais 3.2cm o conjunto; para um total de 9.6cm na frente da câmera. Nenhuma foto deste review precisou do lens hood, mas ele pode ser útil no trabalho com iluminação transversal à câmera (estúdio, flash). A XF 50mm f/2 R WR é uma peça-chave na linha Fujinon APS-C, e novamente cumpre todos os requisitos do melhor sistema mirrorless do mercado hoje: portátil, fácil de usar, 100% eletrônico… Mas com a clara vantagem do carinho no projeto que só a Fujifilm sabe fazer: construção de ponta, performance alta, e preço justo; considerando o conjunto da obra. Ela pode parecer cara para uma “50mm f/2”, mas esta não é a sua “cinquentinha de todos os dias”. É uma peça premium e se comporta como tal, como veremos nas fotos a seguir.
Com um projeto óptico de incríveis 9 elementos em 7 grupos, incluindo uma peça asférica de baixa dispersão (ED) e cobertura EBC (“super electron beam coating”), a performance óptica da XF 50mm f/2 R WR, assim como o preço, está do lado premium da balança. “Absolutamente impecável” como a Sony FE55ZA de US$999, estas não são as suas “cinquentinhas plastic fantastic” de todos os dias. Equivalente a uma médio-telephoto no APS-C, esta 50mm será bem utilizada por retratistas e fotógrafos que exigem a total planificação da imagem, para performance virtualmente perfeita; bem além do simplório “duplo-Gauss” de seis elementos usado por Canon e Nikon no mercado de entrada. A resolução é intacta desde a abertura máxima f/2, e as aberrações são discretas; raras de acontecer, mesmo em situações de extremo contraste. Porém são as características do desfoque e a qualidade das cores que chamam à atenção, mais uma vez demonstrando a expertise da Fujinon em entregar a premissa do X-mount: o melhor APS-C do mercado, e por um preço razoável.
Logo na abertura máxima a resolução da Fujinon XF 50mm f/2 R WR assusta; virtualmente a mesma de objetivas topo de linha “85mm” no full frame (como esta Sigma), e passos largos à frente de qualquer “cinquentinha f/1.8” de baixo custo, com peças restritamente esféricas. Pela fórmula acima é fácil entender “a coisa”: a Fuji com mais elementos e uma peça asférica consegue projetar precisamente o caminho da luz no sensor, e garante resolução máxima no quadro todo; enquanto as f/1.8 simplificadas tem problemas óbvios de geometria, com as bordas menos nítidas que o centro na abertura máxima. Una isto ao tratamento tecnológico EBC contra reflexos internos, e as cores, o contraste e a nitidez saem afiados, como nenhuma outra objetiva médio-telephoto consegue fazer; não nesta faixa de preço. É um prazer trabalhar com o f/2, não importa o sujeito: cenas urbanas sob pouca luz ficam “clínicas” com a reprodução perfeita de inúmeras fontes de luz, e retratos com baixa profundidade de campo extrapolam a resolução do 24MP das câmeras Fujifilm X atuais. É performance de gente grande num pacote pequeno, e a realização do sistema X-mount.
Fechar a abertura tem pouco impacto na performance óptica; corrigindo somente os mínimos detalhes das aberrações axiais. Logo entre f/2.8 e f/4 já estamos no pico da resolução: todos os contornos de linhas finas, folhas das árvores, texturas de tecidos e materiais são meticulosamente bem reproduzidos, curioso até para a Fujifilm X-A3. A câmera usada na análise desta 50mm é o pacote mais acessível da linha X hoje (aliás, já até saiu de linha), mas os arquivos 6000 x 4000 são virtualmente idênticos aos modelos mais caros, Pro 2, T2 e T20. Portanto é possível usufruir da mesmíssima qualidade de imagem e capacidade de impressões num kit super leve, graças à óptica acertada da Fujinon. Enfim a linha “f2 R WR” mostra para o que veio, à frente das f/1.2-f/1.4: objetivas menores, mais leves, mais baratas e fáceis de usar, apesar da performance maior; ainda com novos recursos, com o “weather resistance” ausente da primeira geração Fujinon X. Repito: é muita performance para um pacote pequeno, e a realização do Fujifilm X-mount.
Embora o projeto XF50F2RWR não esteja totalmente livre de aberrações, elas raramente acontecem. As mais notáveis são as bolhas verdes (no segundo plano) e roxas (no primeiro) em zonas de 1) alto contraste e 2) micro-desfoque, obedecendo necessariamente estes dois fatores. Sem eles a aparência das imagens é “clínica”, mas não sem graça como a Sony ZEISS. Na verdade a vantagem aqui é do formato menor APS-C e da abertura máxima “conservadora” f/2, que não exige as peças de vidro tão grandes, diferente da mais simples das cinquentinhas f/1.8 do formato 135 “full frame”. Notem que a fórmula é baseada no duplo-Gauss: dois meniscos opostos. Portanto não há qualquer chance de aberrações cromáticas laterais, idêntica às outras 50mm do mercado. Mas o equilíbrio de distorção esférica (para um desfoque suave), planificação da imagem (para resolução de ponta a ponta) e os elementos extras (são 9 nesta Fuji, contra 6 nas “50mm plastic fantastic”) fazem o trabalho perfeito no formato. Devo repetir pela 3ª vez? É a realização do sistema X-mount.
O destaque do projeto vai para a cobertura tecnológica EBC, que garante supressão quase total de reflexos internos; coisa que as Sigma “Art” pseudo-topo-de-linha não conseguem entregar. Canon e Nikon são experts em vender isto também: há quem pague mais pelas objetivas “Nano Crystal” Nikkor, com um logotipo “N” dourado, bem grande, impresso na objetiva; e a Canon usa o SWC e o Air-Sphere como tratamentos nas objetivas mais caras. E na Fuji, novamente, a lógica é clara: o caríssimo tratamento químico é aplicado em peças de vidro pequenas (formato APS-C), e garantem contraste perfeito sob qualquer situação de luz. A pureza do cristal ED (de baixa dispersão) mantém a resolução intacta – procure qualquer característica semelhante nas objetivas Sigma, e não encontrará – e temos uma 50mm “médio telephoto” perfeita. Até a vinheta é discreta por causa do formato menor, sem escurecimento notável das bordas na abertura máxima. Mas nem preciso repetir pela quarta vez: é a realização total do sistema X-mount e…
Curioso, porém, é a qualidade do desfoque (“bokeh:): incrivelmente suave, apesar da fórmula complicada e com uma peça asférica. Sinceramente eu não tenho argumentos para explicá-lo: o segundo e primeiros planos fora de foco não mostram linhas firmes em contornos de alto contraste e, exceto alguns raros problemas com aberrações axiais, tudo “desaparece” num borrão colorido; apesar das limitações do formato APS-C. Linha retas e repetitivas de objetivas complexas? Não se vê. Anéis mais claros ao redor dos highlights em desfoque, típicos de objetivas asféricas? São discretos. A Fujifilm foi muito feliz em manter o número de elementos especiais baixos (são três asféricos na Sony 55mm, por exemplo; contra um único asférico e ED nesta Fuji 50mm), para garantir o desfoque neutro. Resultado? Praticamente o mesmo look das câmeras maiores (ok, não “praticamente” em comparação a uma 85mm f/1.2 no full frame), mas num pacote portátil e fácil de usar. É a quinta vez, a realização do X-mount!!! (sim, com três exclamações)
Por fim as cores “fecham o negócio” da Fujifilm; hora quentes demais, hora absurdos demais; mas sempre interessantes. NÃO, não é a mesma precisão e equilíbrio que estamos acostumados no sistema Canon EOS desde a década de 70. Os vermelhos “puros” podem custar a aparecer nos arquivos da Fujifilm X-A3, apesar desta câmera usar um arranjo de cores tradicional Bayer; sem a firúla do X-Trans III das Pro2/T2/T20. O mesmo pode ser dito para os rosas, laranjas e amarelos, que contribuem para tons de pele naturais; nada disso acontece por aqui e as peles podem sair ou rosadas demais, com sombras laranjas; ou amarronazadas. Porém os verdes e os azuis são sutis e variados, e então o sistema de cores Fujifilm X “simplesmente funciona”. Vale, portanto, ter a mão livre (e pesada) no tratamento destas imagens. Este look tem conquistado a nova geração de fotógrafos “de Instagram” com presets de Lightroom e efeitos criativos para temperar à gosto, e funciona. É uma qualidade muito maior que qualquer câmera de smartphone, e com a precisão exigida para saídas profissionais. No menor pacote possível. E acessível. X-mount…
Eu não esperava, mas a Fujinon XF 50mm f/2 RW é um coringa na linha Fujifilm X-mount. Boa, bonita, fácil de usar e, com estes resultados absolutamente impecáveis; até “barata”, e obrigatória para diferenciar o trabalho com a sua mirrorless APS-C, sem pagar o preço das objetivas f/1.2-f/1.4. Esta linha “f/2 R WR” é quase equivalente à f/1.8G da Nikkor: objetivas de menor abertura (f/stop maior) e preço mais em conta, em projetos novos, pensados no digital, com virtualmente a mesma qualidade do topo da linha. É um refresco no tumultuado mercado que “atira para todos os lados”, e fácil de recomendar. Basta escolher a sua distância focal e a compra estará decidida: precisa das firúlas dos f/1.2-f/1.4 extremos; ou está pronto para trabalhar e entregar os resultados não importa o orçamento? É a realização do sistema mirrorless APS-C, perfeito no X-mount. Boas fotos!