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Abril/2018 – A AT-X DX 107 10-17mm f/3.5-4.5, é a terceira objetiva ultra-grande angular da Tokina que vemos no vlog do zack. Depois das excelentes (pelo menos opticamente) “AT-X PRO” 11-16 e 11-20 com abertura máxima f/2.8 e projeção retilínea das imagens, esta 10-17 com abertura variável traz a tripla função: no APS-C, os 10mm tem a cobertura completa do formato menor, com linhas retas projetadas na distorção “fisheye”, e geometria equidistante; e no full frame, os 10mm podem gerar a cobertura circular do quadro, aquela com bordas escuras e a imagem ao centro, nos mesmos moldes da top EF 8-15mm f/4L; ou toda a cobertura 180º do quadro em 15mm. Lançada em 2007, a Tokina na verdade tem duas gerações da 10-17mm: a primeira com o parasol embutido, não-removível, compatível somente com o formato APS-C; e esta nova sem “pétalas” na frente, vendida sob os nomes “NH” ou “W/O HOOD”, e feita também para o full frame. Com a expertise da Tokina no grande angular, o preço modesto de US$539, e o suporte aos dois formatos, será a 10-17 AT-X a objetiva fisheye certa para o seu kit? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Nota: estarei analisando neste artigo a versão 10-17mm para o mount Canon EF/EF-S, que difere da versão Nikon. A lente para Nikon depende do motor de foco embutido na câmera, geralmente encontrado nas DSLR topo de linha como D800E, D750 e D500; e não funciona com algumas máquinas “de entrada” (série D5000). A versão da Canon inclui sim o motor, e é compatível com todas as câmeras EOS. Portanto avaliem a compra da Nikon somente pela qualidade de imagem deste artigo, a seguir, uma vez que ela tem operação distinta do modelo mostrado aqui.
Em 7.2 x 6.5cm de 350gr de metais, plásticos, vidros e borrachas, a Tokina 10-17mm f/3.5-4.5 107 AT-X chama a atenção pelo tamanho; uma diminuta objetiva para o formato full-frame, típico da distorção fisheye. Com dimensões entre a Canon EF 15mm f/2.8 “vintage” de grande abertura, e a zoom exótica EF 8-15mm da série L, a Tokina é prática de manter no kit, pensada em todos os tipos de fotógrafos; dos profissionais do full-frame, aos entusiastas do APS-C. A construção é quase toda de metal como as duas 11-16 e 11-20 que já vimos no canal, e impressiona a 10-17 não fazer parte da linha “AT-X PRO”; ela com certeza foi feita para durar anos de trabalho. O design é “das antigas” sem a “gourmetização” das novas Sigma “Global Vision” ou Tamron “Special Performance”, mas funciona; são só alguns parafusos do lado de fora, apesar da solidez. Por isso a Tokina é uma das “marcas alternativas” mais bem aceitas do mercado, baratas sim, mas de alta qualidade.
Nas mãos a 10-17mm Fisheye tem a simplicidade como premissa. Ela é um mero tubo “sólido” com apenas dois anéis de operação, e uma chave de seleção do foco; construída meticulosamente. Próximo da câmera e ao alcance dos dedos, o anel de zoom é robusto e discreto, com um giro de cerca de 90º dos 10mm aos 17mm, em posição anti-horária. Este anel na verdade é bastante “pesado”, relativamente duro de girar pelo menos na minha cópia nova, e passa mais a impressão de uma “prime variável”, feita para usar numa única distância de acordo com o formato do sensor da câmera, do que uma zoom “mude de distância focal o tempo todo”. Embora ela não tenha uma chave de limitação de distância como a Canon 8-15mm L, entre os formatos APS-C/H e full frame, a Tokina funciona bem. É tranquilo montarmos na câmera e esquecermos da operação.
Na frente o principal destaque da Tokina 10-17 é o anel de foco manual “padrão”; um beijo e um abraço ao caótico sistema “one-touch clutch” que eu teimei nos reviews das 11-16 e 11-20 f/2.8. Naquelas objetiva a Tokina tentou inovar com um anel com dupla função de “chave” de liga/desliga do motor de foco, incrivelmente frágil e difícil de usar; e o anel de foco em si, impreciso, mole, solto; beirando o tosco. É inacreditável que eles tenham errado numa função tão simples naquelas objetivas, mas é para isso que serve o “one-touch”: absolutamente nada! Mas na 10-17 o anel de foco é normal, conectado/desconectado do motor interno através de uma chave de seleção manual “AF/MF”, e de boa construção, sem variações entre a posição do lado de fora, e o grupo de foco do lado de dentro. Embora o giro do conjunto seja curto e impreciso (de 40cm ao infinito são apenas 5º), o foco manual é simples: coloque a chave na posição desejada, e ajuste.
Do lado de dentro a Tokina não declara a tecnologia do motor de foco automático, mas não precisamos de muita investigação para suspeitar do motor DC; barulhento, lento e pouco suave; além de impreciso. O motor faz aquele barulhinho característico “nhé-nhé” de uma “ponta” à outra, e infelizmente gira mecanicamente o anel do lado de fora; tome cuidado para não prender as mãos. A operação move o tubo interno da objetiva para frente e para trás, mudando a posição de foco, que vai do mínimo de 14cm (macro 1:2.56) até o infinito em cerca de 1 segundo. E embora o ajuste de foco seja redundante com a longa profundidade de campo do ultra-grande angular fisheye, várias fotos minhas saíram fora de foco. Às vezes a câmera percebe o sujeito já “em foco” dado o percurso curto além dos 40cm, e o motor da objetiva nem é acionado. Isto é suficiente para deixar a imagem sem nitidez, independente da tecnologia da câmera. Aqui demonstrada com a EOS SL2, “phase detection” pelo espelho, e Dual Pixel pelo Live View, várias fotos estão sem nitidez. Portanto recomendo atenção redobrada com a 10-17; reveja as fotos depois do click.
Enfim na frente a Tokina 10-17 não aceita filtros circulares, limitação típica das objetivas fisheye. Como o primeiro elemento é côncavo para permitir os 180º de visão, nenhum filtro plano garantiria qualidade de imagem nas bordas. Mas diferente das Canon EF 15/8-15 fish, a Tokina também não tem o compartimento para géis na baioneta de montagem; uma pena. Outra diferença sobre a série L é a resistência à respingos d’água e poeira na objetiva da Canon, com borracha de vedação no mount e sob os anéis, resistente a garoa; mas não a Tokina. Então a fabricante declara somente o tratamento químico do primeiro elemento como repelente à agua, que serve apenas para facilitar a limpeza. No geral a 10-17 não é nenhuma surpresa na linha da Tokina, com a mesma construção excelente das 11-16/11-20. A objetiva é robusta e a operação é simples, o suficiente para conquistar fãs com orçamento baixo. Mas como veremos à seguir, as imagens deverão justificar a compra; afinal, como se sai o projeto óptico de mais de uma década de mercado?
Com uma fórmula óptica de 10 elementos em 08 grupos, uma peça de “super-baixa” dispersão, diafragma com 06 lâminas e tratamentos ópticos nos vidros, a performance da Tokina 10-17 com projeto de dez anos atrás é justa; nem a melhor, nem a pior fisheye que já vimos no vlog do zack. A qualidade de imagem francamente reflete o preço: a Canon EF 8-15mm f/4L USM de US$1249 é exponencialmente superior; a Canon EF 15mm f/2.8 “vintage” de US$549 (quando estava no mercado) também é superior (afinal é uma prime); a Rokinon 12mm f/2.8 também prime de US$499 é melhor; e a Tokina 10-17mm só fica na frente da ultra-low-cost Samyang 8mm de US$279. O projeto óptico é complexo e infelizmente não há tecnologia na Tokina “antiga” para garantir a perfeição almejada. Na abertura máxima as imagens sofrem com perda de contraste em zonas de muita luz; a resolução nas bordas só acontece com dois, três stops da abertura fechada; e as aberrações cromáticas são crônicas, embora padrão neste tipo de objetiva. A 10-17 funciona para o que é, no mercado intermediário. Mas recomendá-la para profissionais é mais difícil.
Na abertura máxima a Tokina 10-70mm é simplesmente difícil de trabalhar. A performance óptica não mostra resolução nas bordas, e a focagem automática imprecisa aumenta a perda de definição; incompatível com o mercado atual “de alta densidade” dos formatos APS-C (24MP) e full-frame (até 50MP). A reprodução de detalhes é ruim em quase todos os registros sob pouca luz até o f/5.6 e, unida a profundidade de campo relativamente curta mesmo nas longas distâncias de trabalho, as bordas pecam em definição. É fácil vermos os arquivos da EOS SL2 com o perímetro do quadro meramente “colorido”, sem detalhes, não nítido como os demonstrados pela poderosa EF 8-15mm f/4L USM. Invariavelmente de acordo com a distância focal, o formato da câmera e a resolução do sensor, a abertura máxima não funciona. Embora alguns raros “momentos de brilhantismo” aconteçam sob foco próximo e focagem manual, mesmo assim a recomendação é óbvia: prefira fechar a Tokina 10-17mm para f/7.1-f/8, a fim de obter os melhores resultados.
Fechar a abertura resolve parte do problema da nitidez, restando ao fotógrafo o trabalho cuidadoso com o foco manual; não espere arquivos perfeitos com a focagem automática. A resolução nas bordas “sobe” consideravelmente entre f/5.6 e f/8, bacana para trabalhar com imagens que serão impressas em formatos grandes, e a flexibilidade da zoom vem a tona; um prazer de trabalhar. É fácil “compensarmos” a composição ultra-grande-angular movendo o anel de zoom, garantindo então a resolução nativa da captura; melhor que cortar os arquivos no computador. Nas aberturas menores os detalhes aparecem de ponta a ponta do quadro, unidos a profundidade de campo longa, perfeita para fotografias “tudo em foco” de paisagens, arquitetura, esportes; apesar de revelarem um terceiro problema na fórmula: as aberrações cromáticas.
Desde a minha primeira fisheye full-frame Canon EF 15mm f/2.8, as aberrações cromáticas laterais são uma constante neste tipo de objetiva. O projeto com circunferência acentuada invariavelmente projeta o espectro de luz em posições diferentes do plano focal, e as cores são separadas do ponto de foco; como se estivessem passando por um prisma. A característica permanece desde as mais baratas “fisheye” como as câmeras compactas GoPro, até a topíssimo de linha do mercado EF 8-15mm f/4L USM; virtualmente idêntica à 15mm vintage. Então não é de surpreender a Tokina 10-17mm sofrer do problema, mais visível depois do pós-processamentos do arquivos raw da câmera, com tendência a super-saturar linhas coloridas em zonas de muito contraste. O “CA” lateral está em todo lugar: no contorno das montanhas distantes e entre os galhos das árvores contra a luz do céu; nas esquadrias das janelas na fotografia de rua, até os grafismos publicitários das cidades. A única solução é a correção eletrônica da imagem via software do computador, ou processador na câmera, e funciona bem: era de se esperar, e continua na Tokina.
Outra característica importante deste tipo de objetiva é a presença ou não de reflexos internos entre os elementos ópticos; e a qualidade dos pontos de luz, depois de passarem pelas lentes. E os dois se saem relativamente bem na Tokina 10-17mm. Os reflexos (flaring) são razoavelmente bem controlados pelo tratamento químico “multi-coating” da fabricante, uma “escola” de aprendizado nas grande angulares 11-16 e 11-20 f/2.8 do APS-C. Este é o motivo de existirem três versões daquela objetiva: a busca pelo controle de reflexos internos geração após geração. E por incrível que pareça, esta 10-17mm mais antiga já se saia melhor. É difícil vermos perdas de contraste quando contra-luz, esta que quase sempre está presente na composição; dada a amplitude do quadro. Seja em paisagens urbanas ou naturais, na rua ou no estúdio, quase sempre há uma fonte de luz aparecendo nos 180º. E o diafragma de 06 lâminas, embora simplificado, também faz um trabalho razoável em projetar “estrelas” depois do f/8; vistas sobre pontos de luz mais fortes.
Por fim as cores e o desfoque (bokeh) da Tokina 10-17mm são também razoáveis; não os mais saturados de uma Fisheye, e nem os piores. O desfoque é raro de acontecer, mas pode ser uma ferramenta criativa dependendo do sujeito. A distância de foco mínimo da apenas 14cm é mais que o suficiente para gerar uma profundidade de campo curta e a ampliação 1:2.56 “semi-macro” de objetos pequenos, e o segundo plano sairá difuso, suave; embora um pouco morto. Isto é culpa dos tons relativamente “mudos” desta Tokina, que exigem pós-processamento “pesado” para ficarem agradáveis; prepare alguns minutos de Photoshop, de preferência nos arquivos raw, para os melhores resultados. Também as cores são levemente “puxadas” para o amarelo, talvez culpa dos tratamentos químicos mais simples. Então as cores das cenas naturais são medidas quase aleatoriamente pelo sistema de balanço de branco da câmera, exigindo compensação. Pode funcionar para flores e faunas, mas é outro passo do tratamento de imagem antes da publicação.
A Tokina 10-17mm f/3.5-4.5 AT-X DX “no hood” é uma adição interessante ao kit por atender o fisheye aos dois formatos APS-C e full-frame, os dois numa tacada só; pronta para anos de uso. A construção certamente poderia fazer parte da linha “Pro” para a vida toda, feita principalmente de metal, plásticos robustos e precisão justa para o preço; longe de uma peça descartável do mercado “low-cost” APS-C. Esta nova versão sem o parasol ainda é mais compatível com caixas estanque para fotografia submarina, e permite o uso descompromissado com o formato 135 “full-frame”; abrindo território pra Canon EF 8-15mm f/4L USM anos depois. A operação da Tokina também é simples, com foco automático razoável embora muitas vezes impreciso, apesar de fácil; prefira usar os ajustes manuais para deixar tudo sempre em foco. Mas a performance óptica também é justa, somente com alguns momentos de brilhantismo. Esta não é uma objetiva “sempre nítida, sempre perfeita, faz tudo” como a Canon série L; e infelizmente devo concluir o review assim. Ela funciona sim para kits intermediários, que publicam as fotos na internet, sem resolução bruta, e só. Se você precisa da melhor fisheye, ainda mais flexível (8mm), e com operação imaculada, só a Canon faz. Para o restante, basta a Tokina no kit, e boas fotos!