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Julho/2018 – A YN85mm f/1.8 é a quarta objetiva da fabricante chinesa Yongnuo oferecida para a baioneta de montagem Canon EF. Uma marca popular pelos flashes e iluminadores LED de baixo custo, há dois anos eles começaram a oferecer também objetivas para câmeras DSLR, com “projetos-clone” baseados nas lentes de Canon e Nikon; eliminando o investimento com pesquisa & desenvolvimento, e entregando então peças mais baratas. As grande-angular e standard YN35F2 ($99) e YN50F1.8 ($60), por exemplo, são parecidíssimas às EF 35mm f/2 e a EF 50mm f/1.8 II, apesar de custarem 1/2 e 1/3 do preço. A YN100F2 ($160) mais longa copia a curto-telephoto de grande abertura com operação interna, mais durável, apesar de também manter o preço lá embaixo. A bola da vez é a EF 85mm f/1.8 USM, outra curto-telephoto de grande abertura muito usada por retratistas dada a profundidade de campo curta. Mas será que a Yongnuo entrega uma objetiva comparável a marca oficial? E vindo dos reviews negativos das outras três objetivas, será que dá para recomendá-la para o mercado de baixo custo? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 8.1 x 8cm de 460g de principalmente plásticos, metais, vidros e borracha sobre o anel de foco manual, a primeira coisa que notamos na Yongnuo 85mm f/1.8 é como sempre o design; muito parecido com a objetiva “original” EF 85mm f/1.8 USM. Com a mesma escola de ergonomia e operação da Canon da década de 1990, a Yongnuo mantém o equilíbrio com caimento confortável das mãos sobre o anel de foco, perfeito para trabalhar com as câmeras DSLR EOS, com apoio da objetiva pela mão esquerda, e a máquina na mão direita. O tubo externo da lente tem a mesma espessura da frente até atrás, suave ao toque, e o acabamento de plástico liso é idêntico à Canon; relativamente suscetível a riscos, portanto tome cuidado. Porém numa inspeção mais próxima nós percebemos que a YN85F1.8 é na verdade um projeto novo, mais grosso que a objetiva EF, e o papo de “projeto-clone” cai por água abaixo. Daí vale a atenção num review completo: não estamos falando de uma cópia barata, mas sim de um produto novo, com suas particularidades.
Nas mãos a operação da Yongnuo 85mm f/1.8 deixa bastante a desejar, e começam os problemas em recomendá-la. Apesar da boa vontade da fabricante em incluir motores de operação do foco e da abertura do diafragma, ausentes em outras alternativas low-cost, toda a usabilidade da YN85 é bastante “crua”; dura e cheia de probleminhas mecânicos. O anel de foco manual, por exemplo, é “seco” e com imprecisão entre o ajuste do lado de fora e o movimento das peças do lado de dentro, ruim para focar as imagens com a baixa profundidade de campo. Enquanto este anel suporte a função avançada “full time manual”, permitindo o giro da peça externa mesmo com a posição “AF” na chave de seleção de modo de foco, ambas são inconsistentes. A chave AF/MF às vezes sequer dá contato seguro entre o controle eletrônico da câmera e o motor da objetiva, e vi o aviso AF/MF “piscando” na tela LCD; impedindo o uso do dois. É ruim quando usamos a função AF, que pode falhar, e ruim quando queremos usar somente o foco manual, que não está “ativado”. Portanto a YN 85mm f/1.8 faz jus ao preço super-baixo: há defeitos mecânicos na fabricação.
Do lado de dentro outros problemas acontecem: o barulho no motor de foco é alto; a velocidade do motor da abertura do diafragma é baixa; e os dois podem ser incompatíveis com as câmeras EOS. A operação do motor do diafragma é a primeira vez que eu vejo: ele abre e fecha a abertura tão devagar, que o registro da câmera fica “atrasado”; bizarro! É fácil observarmos o movimento lento com a câmera apontada para nós, que não é instantâneo como o diafragma eletro-magnético das Canon EF; um destaque no mercado desde o lançamento. Na EOS 5DS, por exemplo, a câmera às vezes “engasga” em disparo contínuo (5fps), uma vez que a objetiva não acompanha tal velocidade. E na EOS SL2 o problema é pior: mesmo no disparo único a câmera percebe o atraso do diafragma como um erro de comunicação, geralmente quando usamos a abertura f/5.6 ou menor (f/6.3, f/7.1…), e a câmera trava, exigindo o reboot do equipamento (ligar/desligar)! Então ela é virtualmente incompatível com esta câmera, e já li demais relatos sobre o mesmo problema em outras máquinas EOS e até com outras objetivas Yongnuo. Sinceramente? Não dá para usar.
O motor de foco, por sua vez, traz limitações particulares. Enquanto os problemas da YN100F2 tenha sido resolvidos – aquela objetiva sequer ligava o motor para mudar distâncias curtas de foco, nem era compatível com a função SERVO de foco contínuo – a YN85mm está longe de ser perfeita. O sistema micro-DC, por exemplo, é distinto do sistema USM da Canon. A Yong usa engrenagens no lugar do anel magnético da objetiva EF, e elas fazem muito barulho; ruim de usar em eventos ou espaços fechados. Apesar da velocidade ser razoável para focar objetos estáticos, boa para agilizar o trabalho, ela dificilmente acompanhará sujeitos em movimento; apesar da compatibilidade com o sistema SERVO. Aqui demostrada com a EOS 5DS, a câmera finalmente “dirige” o motor de foco para a direção correta (isso não acontecia na YN100), e a chance de acerto aumenta. Porém menos de 10% (!) das minhas sequências estão em foco, dadas as dificuldades de 1) focar sob a curtíssima profundidade de campo; 2) acompanhar o sujeito e 3) operar o diafragma, que atrasa o disparo. Então novamente é difícil recomendar a Yongnuo: não funciona.
Se não bastasse o diafragma lento e o motor de foco duvidoso, a Yongnuo 85mm f/1.8 contínua com uma implementação ruim do protocolo de foco automático da baioneta EF; incompatível com algumas funções das câmeras EOS. Nas DSLR 5DS e 6D (clássica), por exemplo, a YN85 não funciona no Live View: a objetiva “vai e volta” sobre o sujeito, mas confirma o foco na posição errada; ou seja, não serve pra P* nenhuma! Se você pretende o Live View para aumentar a precisão do foco em paisagens e produtos, desista; a câmera não faz. E nos modelos sem espelho como as EOS M antigas, que dependem exclusivamente deste sistema “Live View” para focar, o sensor Hybrid CMOS dos modelos M, M2 e M3 (e câmeras Rebel anteriores à T6i) também é incompatível. Novamente a objetiva até tenta focar, movendo o motor para frente e para trás, mas confirma o foco numa posição totalmente errada. Portanto pela 3ª vez não dá para recomendá-la.
Por outro lado curiosamente a tecnologia Dual Pixel funciona com a Yongnuo 85mm f/1.8; e quase perfeita nas câmeras EOS mais recentes. Na operação do Live View das EOS 7DII, 6DII, 5DIV, T7i, SL2, 80D, por exemplo, tanto a focagem single quanto a focagem SERVO é rápida; nem parece uma objetiva low-cost! Aqui demonstrada com a SL2, algumas sequências de ação com os ciclistas da Avenida Paulista saíram completamente em foco; uma supresa. Enquanto sim, os problemas com, repito, o motor de foco lento e a abertura do diafragma devagar tenham acontecido, a operação é mais confiável que todos os outros modos de focagem da Canon. Portanto vamos resumir: a Yongnuo YN85mm f/1.8 é compatível com a fotografia pelo espelho (“phase detection”), tanto em modo single único quanto SERVO contínuo; é compatível também com o Live View por Dual Pixel, inclusive nas câmeras mirrorless (M5); mas não funciona com o Live View antigo por contraste (EOS 6D; EOS 5DS), nem o Live View por Hybrid CMOS (M, M2, M3 e Rebels até T6i).
Enfim na frente a YN85mmF1.8 aceita filtros do tipo rosca de ø58mm, e vão dentro do trilho de parasol; este que está incluído na caixa. O filtro ficar alto sob o primeiro elemento óptico, suscetível a reflexos internos, mas o parasol é YN-ET-65 é bem feito e preso por gatilhos plásticos; lembra muito o da EF 85mm f/1.2 L II USM, apenas menor. O kit da Yongnuo, aliás, é um charme: inclui case de nylon para transporte e o parasol; ambos vendidos a parte na Canon 85mm f/1.8 USM. Atrás a Yongnuo usa a baioneta de montagem metálica e contatos eletrônicos dourados, com todas as funções de exposição semi-automáticas disponíveis (P, Av, Tv), além da transmissão dos valores de exposição (EXIF). E embora o conjunto não seja “selado” contra água e poeira, o acabamento da YN85 é bem feito; já vimos lentes EF e AF-S piores. O que a Yongnuo fez, como sempre, é bacana pelo preço no mercado de baixo custo. É difícil vermos alternativas deste valor nas fabricantes principais, e vale a pena para fotógrafos iniciantes. Mas a operação duvidosa do foco manual; do foco automático; e até o diafragma são bem difíceis de recomendar. Dá pra confiar suas fotos num equipamento que talvez trave a sua câmera? Vejamos a qualidade de imagem.
Com um projeto óptico idêntico a Canon com 9 elementos em 6 grupos, arranjados numa fórmula duplo-Gauss típica, a performance óptica da Yongnuo 85mm f/1.8 é, er, digamos… curiosa. Assim como as 35F2, 50F1.8 e 100F2 que a antecedem, de fato é possível fazermos imagens com elas: um sujeito interessante, o momento certo e o trabalho com a luz superarão as deficiências técnicas. Mas problemas crônicos com nitidez e cores podem tirar o “brilhantismo” das fotos, e fica difícil recomendá-la para registrarmos as melhores momentos das nossas vidas. O problema principal é a qualidade e a falta de tratamentos químicos dos vidros usados pela Yongnuo. Tanto Canon quanto Nikon investem pesado em coberturas especiais contra reflexos, e esta tecnologia custa caro; inexistentes no mercado de baixo custo. Por isso as fotos da YN85 saem “nubladas” e com detalhes borrados, junto de cores azuladas longe da qualidade oferecida pelas marcas oficiais. E enquanto as aberrações laterais sejam invisíveis na fórmula gaussiana, as de eixo são terríveis; cheias de bolhas coloridas no segundo plano. Eu até poderia recomendar a YN85 pela geometria perfeita, e o desfoque bonito. Mas não dá: é arriscado fazer fotos com uma objetiva tão duvidosa.
Na abertura máxima a Yongnuo 85mm f/1.8 simplesmente não funciona. Aqui testada com ambas a EOS 5DS (50MP) e a EOS SL2 (24MP), fica difícil aceitar os arquivos desta objetiva em f/1.8; não para quem leve a fotografia a sério. Com a 5DS dentro do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, por exemplo, nenhum arquivo está nítido na ampliação máxima 100%. Detalhes de texturas, nuances nos tons e aquela “clareza” que estamos acostumados na fotografia digital não acontece por aqui, e perde o sentido tê-la no kit; não funciona na abertura máxima. A qualidade das fotos foi tão ruim que decidi então repetir os testes, com a EOS SL2 no zoológico, durante o dia. Enquanto os resultados tenham sido mais agradáveis na câmera com ainda maior exigência de resolução (ela tem mais pixels apertados num espaço menor que a 5DS), outros problemas com aberrações de eixo e as cores “mundanas” deixam até as melhores fotos com cara de “lente barata”. Portanto está feita a arquitetura do desastre: vidros ruins, detalhes em baixa e cores estranhas.
Fechar a abertura ajuda os detalhes entre os f/stops f/6.3 e f/8, mas não resolve os problemas nas cores e a aparência nublada das imagens; e cria o problema da incompatibilidade do diafragma lento dependendo da sua câmera. Então enquanto fotos de paisagens, cidades e produtos ganhem outra cara além de f/5, com muito maior resolução e possibilidades de ampliação máximas, nem sempre elas funcionam em razão das cores ruins e eventuais problemas de exposição. O destaque vai também a orientação perfeita do CA lateral da fórmula duplo-Gauss, que elimina qualquer linha colorida em contornos contra a luz como em árvores contra o céu e esquadrias de janelas; permitindo registros de alta fidelidade. Mas os problemas com CA axial continuam e dependo da distância de focagem, com baixa profundidade de campo, as fotos ficam incorrigíveis de tantos problemas ópticos. Então vamos na contra-mão de ter uma objetiva de grande abertura no kit.
A geometria e a qualidade do desfoque da Yognnuo 85mm f/1.8 agradam, e são talvez as únicas qualidades passíveis de recomendação desta objetiva. Vira e mexe e a geometria das objetivas zoom mesmo topo de linha deixa a desejar, com bolhas puxadas para o centro ou para as bordas que impactam na aparência de composições geométricas. Mas a prime 85mm não sofre com nada disto, e é excelente para usar linhas retas do ambiente para enquadrar o seu sujeito. O desfoque do segundo plano também é muito agradável, ponto forte da distância focal longa e da abertura máxima; assim como vimos na YN100F2. A aparência é suave mesmo com linhas firmes, detalhes repetitivos ou sujeitos à distância no segundo plano, que são substituídos por um borrão suave, bonito de ver. E com o diafragma de 8 lâminas ainda é possível acentuarmos o segundo plano mesmo com a abertura fechada, valendo a recomendação para quem busque este look nas imagens. Porém fica aquela dúvida: uma EF 50mm f/1.8 STM poderá fazer o meso “look”, apesar da distância mais curta, e não terá os defeito mecânicos. Vale recomendar a Yongnuo? Não.
Por fim as cores são o último gol contra da Yongnuo 85mm f/1.8, e finalmente recuso recomendá-la. A qualidade duvidosa dos vidros e o tratamento precário das lentes “puxam” todos os tons para a matiz azul, impossível de compensar nos arquivos digitais, “errando” toda a aparências de cenas naturais, espaços fechados e principalmente tons de pele. Não adianta: ajustes de white balance, gradient map e saturação não resolvem. Fotos sob plena luz do sol parecem feitas sob dias nublados, com árvores, flores e o próprio céu com tons cinzas; horríveis! Nuances de produtos, texturas e grafismos são simplesmente “refletidos” para fora da objetiva, sem fidelidade para fotos com acabamento profissional. E os tons de pele são irrecuperáveis: os mais claros parecem abatidos e sem vida; os mais escuros tendem entre o marrom e o azul; e o totalmente negros parecem cinzas-lilás. Talvez funcione para os registros com conversão preto e branco compensados ainda com valores altos de contraste. Mas isto limita ainda mais a flexibilidade de trabalhar com a Yongnuo, e termina a recomendação da 85mm: não arrisque suas fotos!
A Yongnuo 85mm f/1.8 é, mais uma vez, uma objetiva interessante de fazer o review. Enquanto eu admire o empenho dos chineses em oferecer uma linha compreensiva de objetivas fixas de grande abertura e operação totalmente automatizada, nunca vista antes nesta faixa de preço, o conjunto de problemas mecânicos e os resultados ópticos simplesmente não compensa o valor mais em conta. Nesta 85mm as surpresas são a chave AF/MF que não funciona; o motor de foco barulhento; e o motor do diafragma incompatível com as câmeras EOS; impossíveis de recomendar até para os fotógrafos com orçamento mais apertado. E enquanto eu possa conviver com os registros os “mundanos” de cores mudas e detalhes em baixa, sinceramente se você precisa do “look” da profundidade de campo curta ou das vantagens sob pouca luz da abertura máxima, existem outras alternativas “oficiais” que fazem o mesmo e com segurança (a EF 50mm f/1.8 STM é uma opção). Na Yongnuo você estará arriscando as suas fotos por causa “de uns trocados” que podem sair caro. Então fuja de tantos problemas numa peça de baixo custo, e boa sorte com uma objetiva melhor.