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Maio/2017 – A Canon EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM, anunciada em setembro de 2016, é a nova geração da objetiva de mesmíssima especificação, EF 70-300mm f/4-5.6 IS de 2005. Esta que já era uma atualização da antiga 75-300mm IS de 1995, aquela que foi a primeira objetiva a empregar o estabilizador de imagem, Image Stabilizer, a Canon é reconhecida pela família “70-300”, hoje com três modelos EF contemporâneos: 70-300mm f/4-5.6 L IS USM (topo de linha, com construção de metal, AF USM “ring-type” e dois elementos UD); 70-300mm f/4.5-5.6 DO IS USM (a única zoom-Fresnel do mundo, pensada na portabilidade e recém-aposentada da linha EF); e agora a nova 70-300mm f/4-5.6 IS II USM, voltada ao mercado consumidor, não-profissional. Com um novíssimo motor de foco automático NANO USM, um novo estabilizador de até 4 stops e uma nova escola de design, será que a 70-300mm IS II USM vale o upgrade? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 14.5 x 7.8cm com o zoom fechado em 70mm, ou até 21.5 x 7.8cm com o zoom aberto em 300mm, ambos em incríveis 710g de somente plásticos e borrachas, a primeira coisa que notamos na nova EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM é como ela cresceu em relação a geração anterior. O que antes era um tubo “magrelo” de cerca de ø7cm, com as chaves de controle “saltadas” num painel protuberante, agora é um tubo totalmente grosso do começo ao fim, nos moldes da também-telephoto Nikkor AF-S VR 70-300mm f/4.5-5.6G ED; ambas difíceis de “encaixar” em mochilas mais apertadas. A nova 70-300mm II Canon é grande e pesada, um salto significativo a quem via a versão “consumer” (não-“série L”) como uma opção portátil ao telephoto-zoom da Canon; hoje sem representantes na família EOS (a 70-300mm DO saiu de linha este mês). O telephoto virou “negócio sério” na linha Canon, e uma decisão prática na hora da compra: se você busca por um equipamento portátil para “fotografar de longe”, esta não é a melhor opção para a sua EOS.
Pelo menos o que a 70-300mm II tem de grande ela tem de bem confortável, também um salto significativo na usabilidade. Enquanto a 70-300mm IS USM antiga parecia “pobre” na operação, com tubos de plástico “gelado” e diversas respostas táteis diferentes nas mãos (texturas e espaços saltados aos dedos), a nova 70-300 II é muito mais suave ao toque das mãos, além de equilibrar melhor com as enormes DSLR full frame EOS. A Canon sabe que não dá para competir com a portabilidade das câmeras mirrorless, então a aposta é em equipamentos cada vez maiores, firmes de segurar. Para os dedos a experiência é excelente com uma nova textura acetinada, “quente” como as borrachas usadas nas Sigma Art, mas difícil de riscar como os metais da série L. Nasce uma nova escola de design na família Canon EF, que não leva adiante o plástico texturizado da EF 35mm f/2 IS USM, nem usa a tecnologia do plástico “duro” da EF 100mm f/2.8 L IS USM. A linha intermediária usará agora o novo plástico acetinado, empregado também na EF-S 18-135mm f/3.5-5.6 IS USM; nem tão pindaíba quanto uma STM, nem tão cara quanto uma série L.
Nas mãos a 70-300mm II apoia como a “lata de cerveja” suave da Canon EF 35mm f/1.4L II USM. Perto da câmera o tubo não gira, para segurar com firmeza na hora de montá-la. No meio o anel de zoom tem incríveis 6.7cm, com 3.9cm emborrachados e o restante em plástico acetinado, perfeito para dar tração ao dedão da mão esquerda, e girar dos 70mm aos 300mm em cerca de 90º. O movimento está razoavelmente pesado na minha cópia nova, apesar de suave, sem “peso” maior numa distância ou outra; infinitamente melhor que a ridícula Zoom-Nikkor AF-S 70-300mm, que exigia até a torque dos ombros para ir de uma ponta a outra. A Canon aposta que o uso de longo prazo irá “suavizar” o movimento do zoom, inclusive incluindo uma chave LOCK em 70mm, mas deixo esta conclusão para o futuro. Na frente o anel de foco tem 2.3cm, e não gira quando o motor de foco é acionado; um problema da versão anterior com “micro motor” USM. A operação da 70-300mm II é suave, e um passo a frente da versão “intermediária” de uma década atrás.
Do lado esquerdo as chaves físicas de operação do estabilizador e do foco automático evidenciam a nova escola de design da Canon. No lugar de um “painel” com chaves grandes, como na série L, as duas chaves da 70-300 II são “embutidas” no tubo, com pequenos dentes de tração para as posições “ligada” ou “desligada”. Acima deles, pela primeira vez temos um botão MODE, que controla uma grande novidade da 70-300 II: uma tela LCD no lugar da janela de distância. Funciona assim: um pequeno LCD matricial mostra informações de 1) distância de foco; 2) distância focal e; 3) IS/ estabilizador. No modo de distância de foco, as marcações estão em metros e pés, e acompanham uma marcação interativa de profundidade de campo. No modo de distância focal, além dos números já impressos no tubo (70, 100, 135, 200 e 300), a própria objetiva calcula a equivalência da distância focal em 35mm (formato 135), quando usada nos formatos menores APS-C e APS-H (até 480mm); interessante. E no modo estabilizador, o volume de compensação do módulo é mostrado em dois eixos; não é uma “régua de angulação”, útil para manter a objetiva alinhada em paisagens. A força é alimentada pela câmera, com impacto mínimo na duração da bateria, e uma ideia necessária para implementar a nova tecnologia de foco: o NANO USM.
O NANO USM nada mais é que um motor ultrassônico com movimento linear. No lugar do anel giratório das “ring-type” USM, pensado em torque máximo para “deslizar” vidros grandes por trilhos helicoidais, o NANO USM usa trilhos lineares, parecidos às Fuji XF “LM” (linear motor). A diferença é que de fato o NANO USM é “USM”, enquanto outras marcas usam ímãs para produzir energia. A ideia é que o motor seja simplificado, barato de implementar; que a velocidade seja garantida, como um USM de verdade; e que a suavidade e o silêncio do STM (stepping motor) sejam mantidos. E, francamente, a Canon tem outra tecnologia definitiva nas mãos. Primeiro, o motor NANO USM é absolutamente quieto. Se não fosse o viewfinder ou a tela LCD da câmera mudando visivelmente a posição do foco, não daria pra saber que o motor estava funcionando. Segundo, o NANO USM é livre de vibrações: exceto por uma inércia mínima que sentimos no grupo de foco, nada “treme” na objetiva. E terceiro, o NANO USM tem de fato o AF mais rápido que eu já usei numa telephoto, praticamente instantâneo; e potencialmente torna obsoleta todas outras objetivas anteriores, inclusive as série L “ring-type” USM (e olha que já vimos várias por aqui).
No dia-a-dia a EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM tem o foco automático mais rápido que já usei na vida. Aqui testada com a DSLR topo de linha Canon EOS 5DS, é como vemos que os módulos phase das DSLR, unidos a motores novos nas objetivas, tem uma vantagem enorme a qualquer tecnologia atual das mirrorless. Por exemplo a Fujifilm XF 18-135mm f/3.5-5.6 LM R OIS WR: ela tem o mesmo princípio do NANO USM, mas nenhuma câmera Fuji tem o hardware para 1) medir o foco tão rápido e 2) passar tanta energia para a objetiva focar rapidamente (e já vimos as duas top X-Pro 2 e X-T2). A precisão da Canon também é assustadora, com praticamente todas as fotos deste review em foco; inclusive as do teste de AF SERVO (foco contínuo), com acerto de 100%; um prazer vindo dos reviews das Sony A6500, EOS M5 e E 55-250mm f/4.5-6.3 OSS, que tiveram bem menos fotos em foco, em situações idênticas. Embora nem tudo seja perfeito no NANO USM, uma vez que o anel de foco manual agora é do tipo fly-by-wire, impreciso, com atraso e velocidade variável, ruim como os anéis das objetivas STM; o NANO USM é um grande avanço para a linha Canon EF.
Também do lado de dentro a Canon atualizou o módulo estabilizador IS; o Image Stabilizer. A geração anterior já não fazia feio com até três stops de compensação, quase obrigatórios para fotografar com tranquilidade no telephoto. Mas na versão II, a fabricante promete pelo menos 4 stops de compensação, que são entregues de forma elegante (sem solavancos), quieta (sem barulhos) e instantânea (sem o “atraso” do VR da Nikon). Na prática eu consegui tranquilamente fotos em 1/4 nos 70mm; quase meio segundo de exposição, sem grandes frescuras quanto a postura e a respiração. Em 300mm, o módulo também impressiona: 1/160, 1/80, 1/40, 1/20 são tranquilos de fotografar com nitidez, talvez até ultrapassando os 4 stops em 1/10; fantástico. A Canon também promete detecção de panning (modo 2) e tripé automáticos na objetiva, além do silêncio total durante a gravação de vídeos; um prazer de usar com o Dual Pixel das 7D Mark II, 80D, 5D Mark IV e M5. E estabilizador funciona como deveria, e numa telephoto fácil de usar.
Enfim na frente os filtros cresceram para ø67mm (eram ø58mm da versão anterior), os mesmos da 70-300mm da série L. Eles vão numa rosca robusta de plástico, grossa e resistente, difícil de quebrar ou entortar sob impactos. Esta rosca está dentro do trilho de para-sol, infelizmente um opcional no kit de US$549 só a objetiva (a Canon só inclui bolsa para transporte e hood nas série L). Atrás o mount de metal é robusto e bem construído, embora não tenha qualquer borracha de vedação entre a objetiva e a câmera, para sugerir alguma forma de “weather sealing”. Também o último elemento de vidro é fixo e rente ao mount, impedindo a montagem dos Extender 1.4x ou 2x; somente os tubos extensores são compatíveis. A 70-300mm II é um upgrade considerável a geração anterior, muito maior, mais pesada, mais robusta e igualmente melhor de usar. O foco automático NANO USM é um enorme destaque do modelo, e flerta com o futuro improvável da Canon: as objetivas “intermediárias” com AF superior às série L. A diferença fica apenas na construção e na performance óptica que, como veremos a seguir, só não é 100% perfeita porque a Canon manteve a EF 70-300 f/4-5.6 IS II USM o mais acessível (leia-se, portátil) possível.
Com 17 elementos em 12 grupos, dois a mais que a versão antiga e a mesma peça UD única, agora em nova posição, e um novo diafragma de 9 lâminas circulares (eram 8 na versão de 2005), a performance óptica da 70-300mm II parece intacta em relação a 70-300mm anterior. A resolução é boa em todas aberturas, mas nunca tão “clínica” e limpa quanto as primes equivalentes (só a 70-300L fazia isso), mas a frente das objetivas “telephoto low-cost” em contraste e controle de aberrações. A qualidade de imagem é talvez “justa” para o preço, fácil de recomendar para a maioria dos fotógrafos, desde que as expectativas sejam compatíveis com o equipamento: aqui testada com a 5DS de 50MP, fica cada vez mais difícil esconder os defeitos ópticos do projeto zoom, e a 70-300 II está cheio deles. Porém é difícil fazer uma “foto impublicável” com o modelo, e a minha conclusão é simples: você leva o que está pagando, e não é pelo topo de linha da Canon.
Não que a EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM peque em resolução; ela está cheia dela. Em situações perfeitas, é fácil vermos todos os detalhes de árvores nas paisagens, texturas das pedras, a pele em retratos, quase no mesmo nível de objetivas bem mais caras. Mas o problema está nestas “situações perfeitas”: basta você variar um pouquinho a distância focal e as distâncias de trabalho, que a qualidade de imagem vai pro saco, dadas as aberrações e o micro-contraste duvidoso. Por exemplo em paisagens com detalhes finos, é fácil vermos as linhas coloridas da aberração cromática “competindo” por pixels que deveriam registrar detalhes de verdade, culpa dos vidros pequenos, no limite da especificação f/4-5.6. Ora, a 70-300mm “L” o mesmíssimo “f/4-5.6” tem vidros notavelmente maiores, o que garante que as aberrações sejam corrigidas; mas a 70-300 II não tem. É o mesmo caso da também excelente (para o preço) EF-S 55-250mm STM, dado o diminuto tamanho do projeto APS-C. Então são bem menos “momentos de brilhantismo” nestes modelos menores, apesar das fotos bacanas. Não espere resultados “topo de linha” deles.
Fechar a abertura tem pouco impacto na performance óptica, uma vez que a abertura máxima já é bem pequena. Não notei nem maior resolução nas bordas, nem maior controle sobre as aberrações generalizadas, variando de f/4 até f/8. O único ganho visível é na redução da vinheta, acentuada até o f/7.1; repito, por causa dos elementos ópticos muito pequenos. Portanto fotos no final de tarde em 300mm e f/5.6, tem aquela aparência de “buraco da fechadura”, e pedem atenção na exposição; feche a abertura para uma foto com iluminação homogênea. É também nestes f/stop menores que eliminamos ao máximo (mas não resolvemos) os problemas com aberrações cromáticas. Seja em objetos contra a luz ou contornos simples, de baixo contraste, é fácil vermos linhas coloridas que não existem na realidade. Embora a correção seja fácil no computador, e possa acontecer direto na câmera (para quem trabalha com arquivos JPEG), é outro problema que não vi tão gravemente na 70-300 “L”, graças as duas peças UD (baixa dispersão) da série L.
Um ponto positivo está nas distorções geométricas praticamente inexistentes nas distâncias normais de trabalho; fora do foco mínimo de 1.2m. Especialmente útil para quem fotografa paisagens, não vemos a linha do horizonte distorcida em praticamente nenhuma distância focal, uma correção a menos para fazer no computador. Por outro lado a fotografia de produtos em distâncias mais curtas de trabalho pode revelar uma leve bolha em 70mm, e um “afundamento” das linhas em 300mm, comportamentos-padrão das telephoto zoom. Mas é bem menor que a versão passada e até a série L, que mostra distorções geométricas mais acentuadas. O interessante é ver como o flaring também é bem controlado no modelo II, graças ao tratamento eficaz dos vidros da Canon. Fotos com a fonte de luz presente no quadro, como o sol durante o pôr-do-sol, não perdem o contraste nem ganham bolhas coloridas em excesso no quadro, e mantém o contraste bom para quem trabalha criativamente contra a luz, por exemplo para retratos durante a golden-hour. O mesmo vale para o estúdio, caso você use o flash como luz de recorte.
Por fim cores e bokeh são um último destaque do modelo, sempre “felizes” nas Canon EF mais longas. A saturação é um pouco pobre direto da câmera, mas os tons são neutros; a ideia é que você “tempere à gosto” os arquivos no computador, antes da publicação. As cores do espectro RGB são bem definidas e “densas” em zonas de luzes ou sombras, perfeitas para paisagens de alto impacto, próprias para impressões grandes. Os tons de pele são fieis a realidade, sempre alinhados com a ciência de cores das Canon EOS digitais, mais “puxadas” para o laranja. Porém é o desfoque do segundo plano que parece ainda mais suave que versão anterior, graças ao diafragma circular de 9 lâminas. Mesmo entre f/8-f/11 a profundidade de campo é curtíssima nos 300mm, portanto uma abertura realmente circular faz a diferença. As “bolhas” do bokeh em pontos de luz é suave e bonita de ver, superiores a versão 70-300DO que mostrava “camisinhas enroladas”, dado o design Fresnel. Então esta 70-300 II é bacana para fotografar detalhes pequenos, como flores e retratos com desfoque do fundo, sem exigir um investimento “pesado” numa prime de grande abertura.
A Canon EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM ultrapassa da designação de “upgrade natural” da Canon, vistas tantas novidades na construção, no design, na operação, no foco automático… Este é um modelo completamente novo, e cheio de ideias nunca vistas antes na linha EF. A construção é interessante para o preço, este menor que a objetiva que ela substitui (a 70-300 IS USM custava US$649, US$149 mais cara que esta versão II), apesar da nova “escola de design” na Canon. A textura do plástico é suave aos dedos, sem a frescura das borrachas das Sigmas Global Vision, mas ainda sem riscar, como as Canon série L. A operação é suave e um salto a geração passada, com um tubo muito maior e mais “sólido”, que casa melhor com as DSLR EOS full frame, com o propósito de garantir uma uma ergonomia perfeita. A tela LCD é bem-vinda e permite uma função tradicional (a janela de distância), sem tirar o espaço de uma nova tecnologia de foco. O tal NANO USM AF está “enraizado” no legado da Canon, e assusta pela performance: absolutamente instantâneo, discreto e barato. Será interessante ver como a fabricante dividirá cada tecnologia (NANO USM vs. “ring-type” USM) entre a série L e a linha intermediária no futuro. E o Image Stabilizer está mais confiável e útil do que nunca, e também lidera o segmento na performance.
Mas a qualidade de imagem beira o limite do aceitável, sem atender de fato o mercado de alta resolução; leia-se “5DS e seus 50 megapixels”. Enquanto as fotos sejam perfeitas em contraste, cores e controles de aberrações, francamente a EF 70-300mm f/4-5.6 IS II USM foi a pior objetiva testada na 5DS até agora, o que evidencia que 1) a linha intermediária continuará intermediária e 2) a Canon não fará nenhuma mágica na equação “qualidade de imagem vs. preço” (como a Sigma faz nas objetivas Art). A nova objetiva é um salto a frente da geração anterior, desde que você mantenha a câmera “parada no tempo”; e isso é um problema. Ela atenderá no máximo as Canon EOS de 24MP, full frame ou APS-C, estas sim com resolução de sobra, equivalente até as objetivas prime mais caras. Mas não funcionará para os profissionais que queiram de fato extrapolar no tamanho das impressões, e para estes a 70-300 da série L faz mais sentido. Para todo o restante, a 70-300 II é pelo menos um novo paradigma de operação e foco automático, jamais visto em qualquer objetiva Canon nessa faixa de preço. Ela é um prazer de usar, e fará… boas fotos!